"A Chave" é-nos dada por Rogério Charraz, aceite a sugestão
e abra a porta a 11 canções originais.
Oiça a reportagem de Ana Sofia Carvalhêda.
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A
Chave" marca a estreia discográfica de Rogério
Charraz, que se assume como cantautor: alguém que canta, toca, escreve e compõe
as suas próprias canções.
Depois de doze anos de aprendizagem e maturação
enquanto membro e fundador dos Boémia, e de quatro intensos anos de palcos e
estúdio, eis que surge um disco cheio de personalidade e determinação.
Ao assumir a voz, composição e parte da escrita
das letras, Rogério Charraz transporta para este trabalho a sua personalidade e
o seu universo musical, deixando espaço para que os companheiros de escrita,
músicos e o produtor Alexandre Manaia
acrescentem todo o seu talento e imaginação.
Onze canções originais que remetem para uma
visão muito própria da realidade, assumindo influências sem nunca deixar de
vincar o seu próprio cunho.
E num disco tão especial, não podiam faltar convidados
à altura: Ana Laíns e a sua voz
fascinante, José Mário Branco interpretando
como só ele sabe um texto escrito pelo filho e Rui
Veloso, solando a sua inconfundível guitarra num tema de
tributo ao próprio e a
Carlos Tê.
Quatro das canções deste disco fazem parte da
banda sonora de Pai à Força, uma das
séries de maior sucesso da RTP, que estreou a nova temporada no
passado dia 25 de Setembro. O tema "A chave", que dá nome ao disco, foi o
escolhido para acompanhar a relação dos dois protagonistas, interpretados pelos
actores Pepê Rapazote e Isabel Abreu.
"A minha primeira ideia foi chamar-lhe Espelho, por me rever na imagem que dele é projectada (e não falo da fotografia da capa, como é óbvio).
Revejo-me desde logo na teia de afectos que rodeou a sua concepção e execução, desde os primeiros momentos.
Na generosidade de várias dezenas de pessoas que se juntaram à volta da mesa, com o pretexto de criar condições para que este disco fosse possível.
No altruísmo dos companheiros que comigo partilharam a escrita das canções, e dos que comigo as têm tocado por esse país fora.
Na cumplicidade construída com um dos melhores músicos e produtores deste país, que admiro há mais de vinte anos.
Na militância dos que me acompanham desde os primeiros espectáculos, e que nunca deixaram que o projecto ficasse a meio.
E acima de tudo, revejo-me nas canções, que contam uma boa parte da minha vida:
O grito vagabundo de revolta pela perda de alguém amado, nessa guerra tão desigual com a toxicodependência.
As memórias de infância, presentes na história verídica do vizinho alcoólico que ganhou o Totoloto.
Um pouco mais feito para a mulher que me aturou muitos anos, lutando pelos meus sonhos.
Guarda o cheiro para mim e Dança na praceta para a mulher que me resgatou do marasmo, e deu um novo sentido à minha vida. A grande responsável por este disco ser uma realidade.
A insatisfação pela dita que dura, num grito com cor de Fausto e voz de Zé Mário.
Os blues e a poesia que me acompanham desde miúdo e me fizeram crescer como músico.
E claro, a chave com que espero abrir o amanhã."
Rogério Charraz