
Capa de “Mediterrâneo” (2025), álbum de Gil do Carmo.
“Aqui se chama o mundo. Do alto da voz portuguesa de Gil do Carmo, todos os povos se enternecem e, como se animais chegassem da terra toda, as canções abrem no Mediterrâneo uma praça para o encontro.
Aqui se chama o Mediterrâneo, sua idade inteira e sua beleza. A mestria de seus povos sedimentada em suas melodias pressentidas, suas memórias evocadas pela portugalidade. Gil do Carmo completa sua identidade através desta impressão colectiva, uma certa multidão é em sua voz, o sentimento profundo de ser súmula, cúmulo de um território vasto. O Mediterrâneo, afinal, é mais por dentro do que na evidência do mar e do chão. Assim como a “música mora no silêncio”, tudo aqui é segredo que se revela por fim, diamante colhido no íntimo peito do cantor.
Que lindo este disco. Que lindo, elegante, inteligente, tão maduro, este disco em que Gil do Carmo afinal carrega sua música mestiça para ser o que o destino lhe quer: a inteireza de terras a perder de vista. Terras a verem o mar. Terras a descerem ao mar. Onde partimos, onde chegamos.
Há muito que um conjunto de canções não me parecia tão feito de um mesmo gesto e um mesmo amor. Genuínas e seguras, perfeitas. Canções perfeitas de partirmos e voltarmos só por escutar.”