A madrugada de Sines funde-se com o novo dia: ao amanhecer de quinta-feira, segundo dia da rádio pública no FMM, ainda estamos a processar os últimos concertos. Saigon Soul Revival, no Castelo, cumpriu a promessa do nome: fazendo do palco um lounge a meia-luz, a banda dá nova vida à fusão de música vietnamita e ocidental que dominava Saigão, nas décadas de 1960 e 70, antes de ter sido sujeita à censura. Na Avenida Vasco da Gama, diretamente do Gana, Florence Adooni & Band eletrificaram o resto da noite, já depois de concluída a emissão especial da Antena 1.
O embalo rock de MOMO.
Para uma tarde soalheira de quinta-feira, uma dose de rock doméstico e agradavelmente morno, à conta de MOMO. Este é o projeto mais recente de Marcelo Frota, músico que já colaborou com Marcelo Camelo e tem atraído elogios de músicos como David Byrne ou Patti Smith. Antes de tocar, já estava, conforme disse à Antena 1, “encantado com a energia, com o ambiente, e com as histórias que [ia ouvindo]” em Sines.
Este foi o primeiro espetáculo em torno de “GIRA”, o álbum que se prepara para editar em outubro; a banda que acompanha Marcelo Frota é representativa do jazz de Londres, que se imiscuiu na identidade musical de Frota, agora residente nessa cidade (após ter já vivido em Angola, Portugal e EUA).
A revelações de iLe e Orchestre Tout Puissant Marcel Duchamp
Numa noite em que a cacimba deu tréguas, mas as rajadas de vento não, a porto-riquenha iLe foi controlando a temperatura do seu concerto. Houve ritmos para requebrar e também momentos de catarse, antes de uma explosão rock que se refletiu num sobressalto junto do público. Uma voz límpida, potente, como deixou explícito em Triángulo, uma da canções-revelação deste concerto: escrita pela sua irmã, demora a aquecer, mas ganha força com um baixo possante. Funk sorridente para aquecer, que culminou na canção Curandera: uma receita de dois percussionistas, um baterista e um baixista.
E se Sines já estava a arrebitar de vez, foi o concerto seguinte que selou o seu destino. Orchestre Tout Puissant Marcel Duchamp, baseada em Genebra, revelou-se a cada nova voz ao comando, a cada canção em jeito de manifesto. A imprevisibilidade foi palavra de ordem nesta festa inegável de jazz vitaminado, uma sinfonia punk, entre trombones e cornetas, violoncelos e guitarras, marimbas e contrabaixos, percussão e vozes infinitas.
Na emissão especial da Antena 1, além de excertos do concerto de Salvador Sobral e da entrevista com o cantor, houve conversa com Vítor Junqueira e tempo para recordar o concerto de Samba Touré em Porto Covo. Até sábado, depois das notícias das 23h, a Antena 1 entra sempre em direto de Sines, numa emissão conduzida por Nuno Galopim, com reportagens de Carina Jorge e a operação multimédia de Maria Sá e Melo.
Texto de Pedro João Santos