Maria Clara foi uma das vozes mais populares nos anos 40, 50 e 60, tendo continuado a sua carreira pelos anos 70 e 80. Apesar de associada à cidade do Porto, Maria Clara nasceu em Lisboa, treze anos exactos depois da data histórica da implantação da República. Esta referência não é em vão, uma vez que a cantora se viria a casar com o professor universitário Júlio Machado Vaz, neto do antigo Presidente da República Bernardino Machado. Deste casamento nasceria o médico psiquiatra Júlio Machado Vaz, que em 2016 gravou o disco “Poesia Homónima por Júlio Resende & Júlio Machado Vaz – Poemas de Eugénio de Andrade & Gonçalo M. Tavares”, precisamente ao lado do pianista Júlio Resende. Curiosamente, a editora deste trabalho foi a mesma da maioria das gravações de Maria Clara: a histórica casa Valentim de Carvalho. Foi aí que a cantora se estreou em 1944, na sequência do sucesso na opereta “A Costureirinha da Sé”, com um disco de 78 rotações onde se incluíam “Canção da Costureirinha” e “Um Adeus Que Me Esqueceu”, ambas com letras de Arnaldo Leite e Campos Monteiro e músicas de Fernando de Carvalho, que também dirigia a gravação.
Gravando cerca de 30 discos até meados da década de 1950, um número acima do normal para a época, Maria Clara popularizou marchas, fados, canções folclóricas e românticas, chegando aliás a sagrar-se Rainha da Rádio já nos anos 60. O maestro João Nobre foi um dos músicos com quem mais gravou, e é aliás ao seu lado que a encontramos num primeiro momento em álbum, em 1955, ainda em formato de 10″. “Fonte das Sete Bicas”, “Marcha do Vapor” ou “Ó Zé Aperta o Laço” são algumas das canções aí incluídas, para além daquela que se tornaria o seu ex-libris: “Figueira da Foz”, que viria a ter várias edições ao longo dos anos e que tem autoria do poeta António Sousa Freitas e do compositor Nóbrega e Sousa.
Depois de um único disco publicado em 1958 no selo italiano Fonit, distribuído em Portugal pela Casa Figueiredo, do Porto, Maria Clara assina contrato com outra firma da cidade, a Rádio Triunfo. Verdadeiramente implantada em todo o território nacional, aqui se sucedem agora EPs atrás de EPs, alusivos a Festivais da Canção ou a temáticas de cariz histórico ou geográfico. Um destes trabalhos, “Viana, Linda Princesa”, marcaria aliás em 1963 uma tentativa pioneira de lançar os discos em estereofonia, sendo que a tecnologia só viria a vingar por cá já na viragem dos anos 60 para 70. Dois anos antes, a cantora ficara em 2.º lugar no 3.º Festival da Canção Portuguesa da Figueira da Foz, com “De Cá para Lá” (letra de António José e música de Nóbrega e Sousa), granjeando ainda também o Prémio de Melhor Interpretação. Em 1965, um disco de marchas com direcção de Tavares Belo e composições de Eugénio Pepe ou Helena Moreira Viana seria o último trabalho de Maria Clara durante vários anos.
Durante esse interregno, a cantora surge em 1969 no programa televisivo “Zip-Zip”, onde é convidada da emissão realizada no Porto. Já depois do 25 de Abril, em 1977, a firma Rádio Triunfo, do Porto, publica uma colectânea em LP com interpretações de Maria Clara gravadas nos anos 50 e 60.
O regresso às gravações de originais deu-se assim em 1978, com um álbum homónimo produzido pelo agente António Fortuna e onde encontramos várias canções da dupla Eduardo Damas e Manuel Paião. Nos anos 80, depois de uma breve passagem pelo selo Orfeu, de Arnaldo Trindade, o último disco de Maria Clara seria um single gravado pela multinacional CBS ao lado de outra voz maior da nossa canção, Artur Garcia, com “A Vida Contigo” e “Uma Casa Não É um Lar”.
Texto de João Carlos Callixto
Ouça aqui o testemunho de João Carlos Callixto sobre Maria Clara, na manhã da Antena 1: