Um dos grandes nomes do panteão do Fado, Fernando Maurício nasceu a 21 de Novembro de 1933, na Rua do Capelão, na Mouraria. Seu amigo e discípulo, o também fadista Ricardo Ribeiro recorda-o nesta emissão do “Gramofone”, a primeira de duas em que estaremos sempre acompanhados pela voz do próprio mestre.
A carreira de Fernando Maurício começa ainda em criança, mas é com o início da década de 60 que se estreia em disco. Gravado logo em 1960, o primeiro EP é publicado pelo selo Alvorada, da editora portuense Rádio Triunfo, e traz o acompanhamento dos guitarristas Jorge Fontes e Francisco Pérez. Aí encontramos composições como “Saudades de Mim” ou “O Meu Fado”, esta de Júlio Vieitas.
Fernando Maurício muda logo de seguida para outra editora do Porto, a Ofir, passando nessa década de 60 ainda por mais três selos discográficos diferentes. A ideia feita de que Fernando Maurício terá deixado uma obra reduzida é, na realidade, pouco consistente: gravou cerca de 30 discos de originais, em todos os suportes da indústria ao longo de cerca de 40 anos.
Este “rei do fado”, a quem anos mais tarde o realizador Diogo Varela Silva dedicou um documentário biográfico, tem no tema “Igreja de Santo Estêvão” (cantado no fado Vitória, de Joaquim Campos, e com texto de Gabriel de Oliveira) um dos seus fados mais aclamados. Grava-o em 1976, numa altura em que o fado era visto por alguns sectores como uma canção do “passado”, uma crítica que, apesar de generalista e injusta, nunca prejudicou a popularidade de Fernando Maurício. Até ao fim da vida, em 2003, foi sempre aclamado pelo público como um autêntico “rei sem coroa”, estando no entanto por reunir as suas gravações numa integral cuja edição há muito se impõe.