Episódio 1
Lucy Pepper — Reino Unido; em Portugal desde 1999
Apaixonou-se por Portugal em 1991, numa visita de estudo com o seu curso de belas artes, e vive no país desde 1999. A ilustradora, artista plástica, cartoonista, animadora, também integrou a equipa criativa por detrás da Eurovisão 2018 que foi realizada em Lisboa. Autora de livros como ”Eat Portugal” em co-autoria com Célia Pedroso e “O Livro das Receitas Nojentas”, Lucy vem de um país com uma cultura natalícia fortíssima. E um zelo muito grande pelas horas e datas certas.
Assim sendo, o seu primeiro Natal em Portugal trouxe-lhe alguns desafios inesperados: o aquecimento deficiente das casas portuguesas era um deles, mas o principal era a atenção desmedida dada à Véspera de Natal por oposição à que é dada ao próprio Dia de Natal.
Não percebeu porque as crianças pequenas eram obrigadas a aguentar o sono até à meia-noite para abrir as prendas, nem porque é que o Menino Jesus é que as trazia, muito menos se conformou com a relativa indiferença com que o dia 25 foi tratado, sendo que em Inglaterra o Dia de Natal é que é importante. Falou ao telefone nesse dia com a família em Inglaterra e ficou com saudades do ambiente de lareira e família da sua casa.
Aficionada de culinária, Lucy apaixonou-se por Portugal não só pela luz das cidades e pela beleza do país mas também pela sua comida. Isso não quer dizer, no entanto, que não aprecie a gastronomia típica inglesa, e no Natal ela é particularmente importante, com alguns pratos emblemáticos do Natal a sobressaírem. Caso do polémico Christmas Pudding.
Lucy gosta muito. Muitos ingleses não. E está a ter uma grande dificuldade em convencer os portugueses a gostar também.
Episódio 2
Anna Setton — Brasil; em Portugal desde 2021
A paulista Anna Setton tornou-se também a lisboeta Anna Setton em Novembro de 2021. Pode mesmo dizer-se que o seu avião aterrou em Portugal seguindo as luzes de Natal.
Aliás essa foi a primeira grande festa que deu a Anna Setton a sensação acolhedora do novo país de residência. O Natal em Portugal é mais frio na temperatura, ao contrário do Natal no Brasil que acontece no início do Verão desse país. Mas em compensação, segundo Anna, o Natal português torna as cidades mais mágicas, com a iluminação e com o ambiente natalício evidenciado pelas decorações e pela própria atitude das pessoas nas ruas.
No Brasil é uma festa mais fechada no ambiente familiar, enquanto que em Portugal, não se perdendo o valor da reunião de família, há também esta ideia de ocupar as cidades com iniciativas culturais, luzes e animação que Anna apreciou desde logo.
A autora dos álbuns “Onde Mora Meu Coração” e “O Futuro é Mais Bonito” aprecia claro a gastronomia do Natal, mas é a parte cultural que mais mexe com ela. Assim, tinha de nos dar música.
Cantora, compositora, e “gente boa”, como se diz no Brasil, Anna Setton faz questão de se despedir com uma canção de Natal brasileira típica de Assis Valente, do seculo XIX. Chama-se “Anoiteceu” e aqui fica a letra.
Anoiteceu, o sino gemeu
A gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me darEu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papelJá faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem
Episódio 3
Richard Zimler — EUA; em Portugal desde 1990
O autor de “Meia noite ou o princípio do mundo”, “O último cabalista de Lisboa”, ou “A sentinela”, para mencionar o título de apenas alguns dos seus livros, veio para Portugal em 1990 e já declarou em algumas entrevistas que este país lhe salvou a vida.
No entanto a adaptação inicial não foi simples. Um novo país, uma nova língua e embora o seu marido, Alexandre Quintanilha, fosse português, ambos chegavam “desenraizados” à cidade do Porto. Conheceram-se nos Estados Unidos, em São Francisco, no final dos anos 70, e vieram viver para Portugal já como casal. Logo no seu primeiro Natal, Richard que até conhecia bem o clima frio de Nova Iorque, descobriu um problema inesperado: o frio na cidade do Porto era pior do que o frio nova-iorquino. Tudo tinha que ver com o aquecimento -ou falta dele- das casas.
Mas se fisicamente o Natal português começou por ser desconfortável, psicologicamente pode dizer-se que conquistou Richard de imediato. Para quem vinha de uma sociedade tão consumista quanto a norte-americana, um Natal mais calmo, espiritual, e mais virado para o convívio familiar era um agradável contraste.
O Natal de Richard Zimler, é sempre uma mistura de geografias e também de tradições religiosas. Afinal, desde criança, Richard estava habituado a celebrar não tanto o Natal, mas sim a festa judaica das luzes, o Hanukkah, que normalmente acontece em Dezembro.
O Hanukkah, festa em que são acesas as velas do candelabro de sete braços tão típico da cultura judaica, significa celebrar a vitória da luz sobre a escuridão, a vitória da pureza sobre a degeneração, e da espiritualidade sobre o materialismo.
O Hanukkah também comemora a luta da comunidade judaica pelo direito de praticar a sua religião livremente. Richard assinalava essa festa sobretudo com a sua mãe, mas tornou-se mais difícil praticá-la no Porto pois não conhece muitos judeus na cidade. De qualquer forma vai assinalando essa festa em casa e, este ano, com a sua prima que vai encontrar em Bruxelas, talvez consiga viver de novo essas sensações.