Foi a 4 de abril de 1923 que os irmãos Warner constituíram oficialmente a Warner Bros. Pictures. No entanto, os quatro irmãos eram já, à época, produtores implantados no mercado. De resto, a história das origens dos estúdios Warner remonta a modestos começos ainda na Polónia. Filhos de um sapateiro que tinha 12 filhos e vivia com a sua família em Kransnosielc, os irmãos Hirsch, Aaron, Shmul e Itzhak iriam um dia fundar a Warner Bros. Porém, como a vida na aldeia não era fácil (estava sob domínio russo e os judeus eram perseguidos), o patriarca decidiu, como tantos outros europeus, ir para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Na América, o apelido da família (que seria provavelmente “Varna”) foi alterado para Warner, assim como os nomes dos quatro irmãos, que passaram a chamar-se Harry, Albert, Samuel e Jack. Fixado no Ohio com a família, Sam conseguiu um trabalho como operador de projetores num parque de diversões, o que levou os seus irmãos a interessarem-se pelas imagens em movimento. Com o dinheiro da venda de uns poucos bens, compraram um projetor e, equipados com uma tenda e uma tela portátil, percorreram as regiões entre o Ohio e a Pensilvânia, organizando sessões para mostrar O Grande Assalto ao Comboio. Com o lucro daí resultante, abriram a sua própria sala de cinema, aumentando esse património nos anos seguintes e construindo também uma presença no mercado da distribuição. Em 1918, já na Califórnia, criaram uma produtora que lançou o seu primeiro filme longo (My Four Years in Germany), e, graças ao seu sucesso, conseguiram comprar um estúdio em Hollywood. Estava pavimentado o caminho para que em 1923 fundassem a Warner Brothers Pictures, Inc.
Harry, o mais velho dos irmãos, assumiu a presidência da empresa, dirigindo-a da sua sede em Nova Iorque, enquanto Albert, um espírito mais conciliador, ficou como tesoureiro e chefe de vendas e distribuição. Sam e Jack dirigiam o estúdio de Hollywood. O novo estúdio gozou de um sucesso rápido, com a imensamente popular série de filmes de Rin Tin Tin, por vezes referida como “a primeira grande estrela de quatro patas” (e que deu um impulso à carreira de Darryl F. Zanuck, que se tornou um grande produtor e o braço-direito de Jack Warner). Mas o seu verdadeiro grande avanço deu-se com a introdução do som, que fez da Warner um dos principais “atores” da indústria e um pioneiro no uso de som sincronizado em filmes (então conhecidos como “filmes falados” ou “talkies”). Este passo e projeto sonoro era um enorme risco, mas foi aí que a Warner Bros. apostou fortemente no futuro. Para realizar essa colossal empresa, Harry Warner, após um longo período a negar a Sam o pedido do som, contraiu um empréstimo e essa aposta deu os seus frutos. No entanto, em 1927, após o filme Don Juan não conseguir recuperar os seus custos e Ernst Lubitsch se mudar para a MGM, a Warner entrou em crise e foi arruinada pelos Big Five (os cinco maiores estúdios de então). Para enfrentar as dificuldades financeiras, o estúdio lançou o filme O Cantor de Jazz, protagonizado por Al Jolson. Este filme, que tinha pouco diálogo sonoro, mas incluía segmentos sonoros de Jolson a cantar, foi um sucesso e marcou o início da era do “cinema falado” e o fim da era do mudo. E permitiu também à Warner expandir os seus estúdios para um espaço muito maior em Burbank.
No entanto, Sam morreu na noite anterior à estreia do filme e Jack foi designado como o único produtor. A morte de Sam teve um impacto significativo em Jack, pois Sam era uma inspiração e o irmão preferido de Jack. Nos anos seguintes, Jack manteve um controlo rígido sobre o estúdio. Durante os anos 30, a Warner Bros. produziu perto de 100 filmes por ano. Foi o estúdio que lançou a febre dos filmes de gangsters, um fenómeno intimamente relacionado com a participação de James Cagney em Inimigo Público (1931). O ator, juntamente com nomes como Humphrey Bogart ou Bette Davis, contava-se entre as estrelas com contratos de longa duração. Essa década viu também nascer a famosa série de desenhos animados Looney Tunes. Ao longo dos anos, o estúdio ganhou reputação por produzir filmes de alto nível artístico como a história de crime noir Relíquia Macabra (1941), de John Huston, o melodrama Casablanca (1942), de Michael Curtiz, ou o drama Um Elétrico Chamado Desejo (1951), de Elia Kazan, uma adaptação da peça homónima de Tennessee Williams com desempenhos marcantes de Marlon Brando e Vivien Leigh.
Apesar do seu sucesso, os irmãos Warner tiveram sérias dificuldades em entender-se e Jack acabou por ficar como o detentor da empresa depois de convencer os dois irmãos a venderem a sua parte. Jack Warner retirar-se-ia em 1972. A Warner Bros. criou, nas décadas seguintes, alguns dos mais reconhecíveis e apreciados filmes e séries de televisão. Foi a casa de lendários atores como Barbara Stanwyck, Olivia de Havilland, Errol Flynn, Edward G. Robinson, Joan Crawford, Lauren Bacall, Doris Day, James Dean, Paul Newman, Robert Redford, Barbra Streisand ou Clint Eastwood (e também de um ator que deixaria de o ser como Ronald Reagan). Mas também foi o estúdio que deu forma a filmes como, por exemplo, Mildred Pierce, Fúria de Viver, My Fair Lady, Quem Tem Medo de Virginia Woolf, Bonnie e Clyde, Laranja Mecânica, O Exorcista, Fim de Semana Alucinante, Os Cavaleiros do Asfalto, Alice Já não Mora Aqui, Super-Homem, Super-Mulher, Batman ou as sagas de Harry Potter e de O Senhor dos Anéis. Ou que permitiu que existissem séries de televisão memoráveis como Os Três Duques, V, Norte e Sul, Murphy Brown, Contos de Arrepiar, Family Matters, Friends, Serviço de Urgência, Will & Grace, Queer as Folk, A Teoria do Big Bang, The Leftovers ou Westworld. A Warner Bros. é uma das maiores companhias da indústria de entretenimento cinematográfico e televisivo, contando com uma série de subsidiárias. Segundo dados internos, possui no seu catálogo mais de dez mil longas-metragens e cerca de 2500 programas de televisão.
Texto de Nuno Camacho
João Lopes esteve hoje à conversa com Mónica Mendes, na manhã da Antena 1, para assinalar o centenário da Warner Bros.