Um dos músicos mais prolíficos em Portugal nas décadas de 60 a 80, Luís Cília é o nome que hoje chamamos ao Gramofone. Nesta 3.ª parte da nossa conversa com o músico estamos entre 1971 e 1976. Tanto em Paris como depois em Lisboa, os seus trabalhos aproximam-se de algumas correntes da música contemporânea, com colagens sonoras e instrumentações mais elaboradas.
Na década de 70, Luís Cília seria pioneiro na introdução de técnicas da composição electroacústica no campo da música popular, tendo a sua obra sido apresentada nos Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea. Continuando a gravar ininterruptamente até finais da década de 80, Cília produziu ainda discos de Manuel Freire, de Mário Viegas ou de Né Ladeiras.
A sua carreira começara em grupos de pop rock, tendo integrado na viragem dos anos 50 para 60 os Golden Boys, ao lado de dois futuros membros do Conjunto Mistério e dos Sheiks, Luís Waddington e Edmundo Silva. Será em França, país para onde parte em 1964, que Luís Cília grava o seu primeiro disco. Em Portugal-Angola: Chants de Lutte, Cília musica poemas de vários autores contemporâneos portugueses e africanos, como Daniel Filipe, Jonas Negalha, Manuel Alegre ou António Borges Coelho, que não receiam pôr os dedos nas feridas de uma guerra colonial que arrastava consigo uma geração de jovens.
Luís Cília permaneceria em França até 1974, editando uma trilogia de álbuns consagrada à poesia portuguesa clássica e contemporânea no selo Moshé-Naïm, para onde gravava outro músico e amigo, o espanhol Paco Ibáñez. Na segunda metade da década de 60, escreve a música “Avante Camarada”, que foi gravada na União Soviética por Luísa Basto e que se tornaria depois o hino do Partido Comunista Português. Depois da década de 70, objeto deste episódio do Gramofone, a sua principal atividade consiste na escrita de música para filmes, peças de teatro e dança, permanecendo por reeditar a quase totalidade da sua obra, uma das mais vastas e distintas do panorama nacional dos últimos cinquenta anos.
Texto de João Carlos Callixto
O Gramofone pode ser ouvido nas manhãs de sábado, depois das 10h, na Antena 1. Encontra-se disponível também na RTP Play.