“Fados de Coimbra e Outras Canções”, gravado em 1981, é uma homenagem e uma referência histórica que relevam a forma original e autêntica de José Afonso perante a tradição que permanentemente se inova e recria. Masterizado por Florian Siller no Soundgarden Tonstudio em Hamburgo, constitui o 11º álbum (e último da série de 11 originalmente editados pela Orfeu) agora editado pela Mais 5 em LP, CD e digital.
Gravado com a colaboração musical de Octávio Sérgio, Durval Moreirinhas, Júlio Pereira e Janita Salomé, o disco é dedicado a seu pai e a Edmundo de Bettencourt, “o maior cantor de fados de todos os tempos” e “um grande poeta”, como o caracterizou numa entrevista. Com este sinal, José Afonso afastava qualquer intenção revivalista da conceção canónica do Fado de Coimbra e de tradições folclóricas estudantis que renasciam em ambientes conservadores na Academia, para reforçar a importância de inovar na tradição, um processo que Edmundo Bettencourt iniciou na forma de cantar e na introdução de cantigas populares no fado.
José Afonso inicia as suas atividades fadistas como cantor ainda muito cedo, como estudante liceal em Coimbra. O seu repertório é variado, estendendo-se às cantigas populares. Em 1952, a revista Via Latina relevava-lhe a “voz suave e branda” que contrastava com a tradicional forma “esgoelada e gritada” de cantar o fado de Coimbra. Estava dado o mote para um processo de renovação não só do fado de Coimbra mas também da música popular portuguesa, e que viria a resultar numa obra discográfica que constitui um marco fundamental do nosso património cultural.