Foram 65 anos de lenta e gradual subida na tabela norte-americana até que, aos 78 anos de idade (agora já com 79), a cantora que tinha 13 quando gravou uma canção de Natal com travo rockabilly, viu finalmente o seu “Rockin’ Around the Christmas Tree” a chegar ao número um. A canção leva-nos em primeiro lugar aos dias de juventude de Brenda Mae Tarpley (n. 1949), que tinha oito anos quando viu o seu pai a morrer num acidente de trabalho e, em pouco tempo, deu por si a ser a principal fonte de rendimentos de uma família de muito poucos recursos. Brenda tinha cinco anos quando venceu um concurso de canto. E nos tempos que se seguiram deu por si a cantar regularmente em programas de rádio e televisão em estações locais ora na Georgia onde nasceu ora no Kentucky onde, ocasionalmente, a família residiu. Em 1956 assinou um acordo editorial, lançando primeiros singles com os quais, sobretudo “One Step at a Time” e “Dynamite” (ambos de 1957), conquistando lugares discretos no Top 100 norte-americano. Brenda Lee – como então já assinava os seus discos – tinha já editado em 1956 “I’m Gonna Lasso Santa Claus”, um primeiro single de Natal quando, dois anos depois, deu por si num estúdio em Nashville com uma nova canção talhada para a quadra festiva, esta em evidente clima rockabilly (e vale a pena lembrar que Elvis Presley tinha editado um primeiro álbum de Natal ema 1957). Assim nasceu “Rockin’ Around the Christmas Tree”, canção de Johnny Marks, que, com “Papa Noel” no lado B, gerou um single que chegou aos escaparates das lojas americanas a 24 de novembro de 1958.
Mas, apesar de hoje a conhecermos como um clássico, a canção não gerou de todo vendas significativas nem em 1958 nem no ano seguinte, só em 1960 cativando atenções suficientes para a levar ao 14º lugar na tabela oficial norte-americana, conquistando então um estatuto que lhe permitiu ultrapassar as fronteiras e conhecer uma importante edição no Reino Unido em 1962, o que lhe deu depois balanço suficiente para chegar a outros mercados europeus e, com o tempo, conhecer novas versões assinadas por nomes como Kim Wilde (com Mel Smith), os Alabama, LeAnn Rimes ou, mais adiante, Kasey Musgraves e Camila Cabello ou também Justin Bieber.
A canção foi conhecendo várias reedições em anos seguintes, vivendo um novo surto de interesse quando, em 1990, foi usada na cena do filme “Sozinho em Casa” em que vemos o pequeno protagonista a criar a simulação do que parece ser uma festa na sua casa quase vazia. Mesmo assim o melhor resultado até então nos EUA era o 14º posto alcançado em 1960… Em 2014, já com a contagem dos valores do streaming, “Rockin’ Around the Christmas Tree” voltou a figurar no Top 50, regressando desde então a cada ano. Em 2019 alcançou o segundo lugar, posição repetida em 2020, 2021 e 2022. Em 2023 Brenda Lee aceitou gravar um teledisco para a canção. E do impacte das imagens – que usam o playback da versão original, de 1958 – nasceu o impulso suficiente para, 65 anos depois, “Rockin’ Around the Christmas Tree” ter chegado ao número um nos Estados Unidos. O intervalo tornou-se um recorde: o da mais longo período entre o lançamento de uma canção e a sua chegada ao topo da tabela. Ao mesmo tempo este momento deu a Brenda Lee outro recorde: o do mais extenso intervalo entre dois números um: 63 anos, um mês e três semanas (o anterior era “I Want To Be Wanted”, editado em 1960, um pouco antes do primeiro episódio de sucesso com “Rockin’ Around the Christmas Tree”).
Texto de Nuno Galopim
“Rockin’ Around the Christmas Tree” foi o destaque desta quarta-feira (20) no “Gira Discos (Diário)”.