Morreu, aos 89 anos de idade, o portuense Arnaldo Trindade, um dos nomes definidores da edição fonográfica em Portugal entre as décadas de 1960 e 1980. A notícia foi confirmada pela família do editor, na sua página oficial de Facebook.
Fundou em 1956 a Orfeu, a partir da loja de eletrodomésticos do pai, na Rua de Santa Catarina, na cidade do Porto. Iniciou a sua atividade discográfica com discos de jazz e música ligeira, centrando-se depois na primeira coleção de literatura portuguesa declamada. Até aos anos 1960, publicará versos de Miguel Torga, José Régio, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro ou Ferreira de Castro. A nova década traz o investimento em grupos populares como o Conjunto António Mafra ou o Conjunto Maria Albertino, bem como nos fados de Coimbra e Lisboa. A Orfeu é a primeira a editar Maria da Fé, a que se seguirão todas as obras de Adriano Correia de Oliveira e parte substancial da discografia de José Afonso.
“É uma editora que se destaca pela personalidade do seu fundador, mas que dava total liberdade aos artistas e colaboradores de que se rodeava”, recordou João Carlos Callixto em conversa com Filomena Crespo, esta segunda-feira na Antena 1. Sérgio Godinho, Fausto, Vitorino, Jorge Ferreira, Duo Ouro Negro ou Lenita Gentil são outros dos nomes que Arnaldo Trindade editou pela Orfeu. Recentemente, publicou três livros de poesia: “Jogos de Xadrez e da Vida” (2013), “Commedia Dell’Arte” (2015) e “Nuvem sem água, chuva não chora” (2022).
“Foi dos editores fonográficos mais importantes que Portugal conheceu”, disse David Ferreira em declarações à redação da Antena 1. “É, além do mais, o editor que descobre a maneira de pôr o José Afonso a trabalhar, porque até essa altura não se tinha fixado numa editora. Fez uma série de discos absolutamente notáveis, como o tinha feito antes com Adriano Correia de Oliveira.”