1.
Tenho um bidé na casa de banho e gosto de o usar como complemento do papel higiénico, mas nos últimos dias dei por mim a ler artigos que me envergonharam por nunca ter pensado no assunto.
Quando me limpo não me ocorre que sejam necessárias centenas de litros de água, abater árvores ou produzir pasta de celulose para produzir um rolo de papel higiénico.
E nunca antes pensara na degradação ambiental, nas toneladas de papel sujo escarrachado nos esgotos ou nos microrganismos que vários cientistas juram ser mais abundantes no uso de papel do que na água.
2.
Depois de estudar os artigos gastei mais dois ou três rolos, não penses que a transição é fácil ou que tenho um espírito suficientemente aberto para começar a lavar no bidé sem, na verdade, o saber fazer com competência.
Ponho umas luvas?
Limpo com uma toalha de algodão?
E o que faço a seguir à toalha?
Lavo e só depois seco?
E se fica cheiro na toalha tenho de a pôr para lavar, certo?
E isso não gasta mais água do que se me limpasse com papel higiénico?
E como faço sendo nós tantos em casa?
Cada um tem a sua toalhinha? Digo aos miúdos para lavarem o bidé depois de saírem?
E como perceber se está tudo limpo ou se preciso de continuar a lavar?
3.
Isto não tem graça, é mesmo verdade que alguma coisa se terá de fazer pelo planeta.
Já não uso os cotonetes que usava.
Já reciclo lixo.
Já demoro muito menos tempo no duche.
Já não ponho todos os dias as calças e a camisa para lavar.
Já não janto.
Já evito o plástico.
E sei agora que os portugueses são campeões no uso do papel higiénico – segundo o jornal Público cada um de nós usa em média mais de mil quilómetros de papel higiénico ao longo da vida. Os espanhóis precisam de 600 Km e os brasileiros pouco mais de 200.
Prometo pensar no assunto, ir treinando, fazer uns exercícios e perceber como corre.
Peço-te apenas que fique entre nós…
… na nossa intimidade.
Mas quando hoje chegares a casa olha com carinho para o bidé e pensa no assunto.
Texto e programa de Luís Osório
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