Terá o concorrente João Borsch, rodeado de microfones durante a sua atuação, provocado uma escassez de material de gravação nos estúdios da RTP? “Significa isto que a equipa da Antena 1 está agora a falar para uma espátula”, brincou Filomena Cautela ao ensaiar a final do Festival da Canção 2024. Podemos garantir que tal não sucedeu: a rádio pública continuou de microfone em punho, pelos bastidores, na noite que concedeu a vitória a iolanda. E é já em maio que vai representar Portugal em Malmö com a canção “Grito”.
iolanda sucede assim a Mimicat, que compareceu às semifinais como jurada e à final como intérprete, revisitando “Ai Coração” antes da passagem de testemunho. Em declarações à Antena 1, iolanda afirmou que foi preciso “acreditar que é possível, pôr a luz dentro do meu corpo e acreditar que consigo. Vamos preparar a minha ida já. É uma grande responsabilidade e vou perceber como consigo fazer mais e melhor.”
“Estou muito feliz, não estou nervosa”, garantiu, trémula, a vencedora de 2024, agradecendo sobretudo aos votantes. “Será que o grito sai da mesma maneira?” A resposta é sim.
As vozes da rádio na corrida contra o tempo e as caras conhecidas do Festival
Como qualquer outra competição, mesmo que saudável, o Festival da Canção é um bom prato para os apreciadores de adrenalina. Convém, portanto, que seja Noémia Gonçalves a pivot da emissão da Antena 1: “Nós sabemos que não há tempos; estamos sempre a correr atrás do estrago. É trabalhar sem rede, que é uma coisa de que gosto muito.” Sem rede, mas com o amparo dos comentadores Afonso Cabral e Inês Henriques, na segunda semifinal, e Joana Espadinha e Pedro Penim nas restantes emissões da rádio.
Nada disto aconteceria sem o repórter na toca do lobo, Pedro Miguel Ribeiro, que chegou à fala com os apresentadores da final. “O Festival da Canção permite-me ser muito feliz na televisão”, declarou Vasco Palmeirim ao microfone da Antena 1. “Enquanto espectadores somos presenteados com um espetáculo de televisão, mas isto é muito mais do que isso” – e recordou uma propriedade essencial na confeção do Festival. “Como sabes, Pedro, trabalhaste connosco: somos muito idiotas. Rebentámos com duas air fryers e uma esfregona.”
Filomena Cautela, que ingressou na história do Festival, virou mesmo o feitiço contra o feiticeiro: “Tem sido um privilégio trabalhar com esta equipa, principalmente contigo, Pedro Miguel Ribeiro” – hoje repórter, mas que integrou a equipa de guionistas do revitalizado Festival da Canção, de 2017 até 2023. “É um dos grandes responsáveis pelo sucesso de todas as meias-finais e finais”, acrescentou, estendendo o elogio aos restantes colegas, incluindo Carla Bugalho, Gonçalo Madail, Inês Lopes Gonçalves, Maria Ferreira e Nuno Galopim. “Trabalhar com uma equipa que nos dá liberdade para trabalhar. Se um diz mata, outro diz esfola, e a equipa diz ‘bora lá. Trabalhar assim em TV é raro.”
A imprensa internacional num festival nacional
Do ensaio geral à conferência com os músicos, os sites de fãs marcam presença no Festival da Canção de fio a pavio. Em noite de finalíssima, podemos contar ainda com a imprensa além-fronteiras, representada por algumas das publicações digitais mais lidas da esfera eurovisiva – como a Wiwibloggs e a Eurovisionworld.
Este é o terceiro ano de Joe Bleasdale, vindo do sudeste de Londres, no Festival da Canção – uma das várias finais nacionais que acompanha para o site ESCBubble. “Já conhecemos as semifinais de antemão e, aqui, conseguimos uma impressão de como os concorrentes jogarão em arena”, disse o repórter britânico à Antena 1.
“Internacionalmente, a atitude geral sobre o Festival da Canção é que é uma das seleções mais respeitadas da temporada, e – creio eu – por boa razão”: entre os vários nomes internacionais, encontrámos também o irlandês Rory Gannon. Representa aquele site da Eurovisão – ou seja, traduzido muito literalmente, That Eurovision Site. “Temos música de qualidade, interpretada por cantores e cantautores que acreditam na sua música. E trata-se de música interessante, que desafia as convenções, não é meramente tradicional.”
A equipa que faz tudo acontecer
Tudo reporta à televisão, o ponto de partida do Festival desde 1964, conforme nos contou Rui Filipe Oliveira. “Já estamos a trabalhar nisto desde setembro, com montagens desde final de janeiro”, detalhou o produtor da RTP – um de cerca de 60 membros permanentemente alocados à equipa do evento. “Começamos a trabalhar previamente com os autores das canções para perceber o mood e a intenção da canção. Temos de criar iluminação, gráficos de fundo, marcações em cena. Transpomos aqui para o primeiro ensaio para ver se o que falamos corresponde àquilo de que gostariam, ou se querem fazer correções. Estão aqui connosco quatro dias antes das semifinais e [mais quatro] antes da final para ensaiarem tudo.”
Dedicação essa que não existe, claro está, sem os guionistas. “Até à última, estamos a tentar apurar qual a melhor piada, o melhor comentário”, comenta a autora Susana Romana, lembrando um trabalho de escrita e edição “até à náusea. Além de funcionar em Portugal, tem já que piscar a uma dimensão internacional, porque isto esta é a nossa representação num evento que é de toda a Europa. A escala, a exigência, o detalhe são um pouco diferentes.”
O resultado é uma máquina bem oleada, intercalando a apresentação de cada performance, o suspense das classificações e o contacto com os artistas na green room (“Eu abri uma porta com o chouriço e fui plagiada! Agora, o pessoal vem para aqui tentar imitar-me com rissóis, mas não é a mesma coisa”, brincou Cláudia Pascoal). E que tal Filomena Cautela, Vasco Palmeirim e Inês Lopes Gonçalves a adaptarem êxitos do Festival para apelos ao voto? “Ai Votação”! Quem sabe o que 2025 trará?