1.
Jorge Nuno Pinto da Costa já não é presidente do FC. Porto.
Depois de 42 anos e de muitas dezenas de títulos ainda não deve ter tido tempo para pensar o futuro.
O que fará agora?
Para onde irá quando acordar?
Aluga um escritório ou preferirá ficar em casa?
O que poderá fazer que substitua a vida que construiu e lhe ofereceu um propósito?
2.
Continuará a almoçar nos lugares e com as pessoas de sempre?
Continuará a marcar encontros com presidentes e treinadores, com agentes e políticos, com conselheiros e antigos jogadores – almoços conspirativos acompanhados pelo bacalhau da Julinha na Trofa, pelo arroz de frango com ovos estrelados no restaurante da irmã de Reinaldo Teles, o célebre Antunes?
Dias difíceis em que o seu carro se enganará por desejar fazer o caminho de sempre, um carro ensinado a ir de olhos fechados para o Olival ou para o Dragão.
Dias complicados por já não poder ir para o seu gabinete, onde deixará de ver às segundas-feiras a agenda de todas as equipas, masculinas e femininas de todas as modalidades…
… e de analisar os resultados e de chamar ou telefonar quando as coisas não corriam bem, mesmo que fosse no bilhar às três tabelas ou no halterofilismo.
3.
Como será quando a nova época começar?
Como conseguirá gerir o vazio de não ir com a equipa nos jogos fora, de não ir aos fados quando o FC. Porto jogava em Lisboa, de não almoçar nos estágios, de não sentir o balneário?
Continuará a fazer sentido chamar o alfaiate de sempre, o homem que o acompanha há tantos anos e que lhe arranja fatos à medida para os jogos ou dias especiais?
Como se sentirá por não poder marcar conversas de surpresa com funcionários que estejam a passar por dificuldades ou a falhar objetivos?
4.
Jorge Nuno Pinto da Costa despediu-se no Jamor de uma presidência marcante e polémica, a mais marcante e a mais polémica liderança de um clube desportivo.
Transformou o FC. Porto numa potência.
Criou uma máquina de guerra implacável que foi bandeira de uma região, ganhou mais do que todos os presidentes juntos, mas quando começar a época onde irá quando acordar?
Dormirá até mais tarde?
O que sentirá por não poder escolher o treinador? E o plantel e tudo o resto que foi a sua vida, todos os dias há 42 anos, quinze mil e trezentas manhãs que acordou a saber para onde ia, passo a passo, minuto a minuto, reunião a reunião, treino a treino, jogo a jogo?
O campeonato mais difícil começa agora para Jorge Nuno Pinto da Costa, um homem que nunca foi como os outros.
Texto e programa de Luís Osório
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