Luísa Costa Gomes concebe a peça a partir de textos vários de William Shakespeare, numa abordagem que pretende propor uma nova leitura da relação de poder e sedução do casal Macbeth. Com o Apoio Antena1!
MACBETHS não é Macbeth, embora também o seja. É uma peça-em-peças, construída com excertos de outros textos de Shakespeare, nomeadamente Macbeth, Ricardo II, Otelo, Hamlet, Rei João, Como Queiram, Henrique V, O Mercador de Veneza e um ou outro soneto. MACBETHS pretende imaginar o que não se vê na peça de Shakespeare, sobretudo no que diz respeito à acção de Lady Macbeth, mantendo ao mesmo tempo intocado em linhas gerais o enredo da tragédia de Shakespeare. Aqui segue-se Lady Macbeth nas suas repetidas tentativas de reposição da boa ordem.
A peça constrói-se em três momentos: primeiro, o sonho do poder, plantado em ambos pela superstição de um destino superior; segue-se o tédio e o pesadelo do poder, depois do assassinato do Rei Duncan, que leva Lady Macbeth ao remorso, Macbeth à orgia homicida – e o casal à separação de facto. Enquanto Macbeth destrói, a Senhora procura minimizar os danos, dilacerada entre a lealdade que deve a Macbeth tresloucado e suicida e a necessidade de não ser sua cúmplice na destruição.
Porquê e para quê remexer em textos perfeitos? Para quê estragar o que é tão belo e tão verdadeiro? Talvez não passe, também este tipo de respeitosa e amorosa paródia, de um vão exercício de poder. Mas Macbeth, sendo uma tragédia perfeita, um texto que não esmorece, que não perde vitalidade, que continua a convocar-nos, gera esta e infinitas leituras. Impôs-se-me outra versão de Lady Macbeth, normalmente vista como serpente tentadora, figura diabólica que manipula, força e depois abandona o cúmplice e se abandona ela própria à loucura. Partindo daquele enigmático desmaio, daquele “Oh, ajudai-me!”, fui à procura da outra metade da peça, e pensar o que terá ela andado a fazer fora de cena. Quem é ela? Quais os seus motivos, o motivo do seu desmaio, que amor desvairado é o seu, que suposta loucura…para além da harpia, da bruxa má, da mãe castradora, andei à procura dela e o que encontrei…foi outra pessoa.
Luísa Costa Gomes