No início, era a voz e o piano. No início do Fado, isto é; quando a canção de Lisboa era convidada para os salões palaciais da aristocracia, era ao piano que se cantava, não à guitarra. Daí nunca veio mal ao mundo.
No início, mais tarde, era também uma voz – e não um, mas dois pianos. A voz de Camané, a maior referência masculina da nova geração do Fado revelada na viragem do século XX para o século XXI, voz de um raro calor e versatilidade. Os pianos de Bernardo Sassetti e Mário Laginha, homens formados no jazz mas habituados a extravasarem o seu talento de músicos e de compositores para outras áreas. Juntos com Carlos Bica fizeram um espectáculo chamado Vadios, e deixaram água na boca para futuras colaborações.
Os anos foram passando, Camané e Mário foram-se reencontrando regularmente – nomeadamente no inédito Ai Margarida, composto por Mário sobre um poema de Álvaro de Campos, gravado por Camané em 2013.
E o fadista lançou ao pianista o desafio: continuar a explorar o Fado à voz e ao piano. Escolheu-se reportório. Fizeram-se concertos. E, rodada a ideia, rodado o reportório, gravou-se, finalmente, um disco.
Só podia ter acontecido assim: depois de Camané e Mário terem descoberto os cantos a uma casa (in)comum e nela se sentirem confortáveis. Depois da voz e do piano se entrosarem de tal modo que parece nunca terem feito outra coisa na vida.
Camané canta, com a voz que lhe conhecemos, com a entrega e a elegância que lhe reconhecemos. Mas também com a experiência de vida que foi acumulando desde que gravou os seus primeiros álbuns, revisitando temas que gravou ao longo da sua carreira com uma nova maturidade, capaz de abrir novas leituras e novos caminhos. Arriscando-se a gravar clássicos, de Amália ou Marceneiro ou Carlos Ramos, que parecia já serem definitivos – e que agora o voltam a ser.
Mário toca, com o talento que lhe conhecemos, com a versatilidade e o virtuosismo que lhe reconhecemos. Mas também com largos anos de experiência a partilhar o seu piano com outras vozes e outros instrumentistas, com a humildade e o talento dos grandes músicos. Intuindo de modo quase mágico quando avançar e quando recuar, o local certo para colocar as notas, o tempo certo para envolver a voz.
Juntos, Camané e Mário propõem um momento íntimo num confortável salão da casa que mobilaram. Um piano que serve uma voz que serve um piano, e que juntos servem as palavras de alguns dos maiores poetas portugueses, clássicos e contemporâneos, e as melodias ora do Fado tradicional ora da pena de compositores inspirados.
11 temas retirados ao cancioneiro do Fado ou à carreira de Camané, 5 inéditos nunca antes gravados. Um disco que nos convida a sentarmo-nos sem pressas e a desfrutar do talento de dois dos mais extraordinários nomes da música portuguesa. Juntos.
É assim que a grande música deve ser ouvida. Aqui, de facto, está-se sossegado.
A 15 de Novembro, o fadista Camané e o pianista Mário Laginha editam o seu primeiro álbum em duo: Aqui Está-se Sossegado.
11 temas retirados ao cancioneiro do Fado ou à carreira de Camané e 5 temas inéditos, nascidos de uma longa cumplicidade de anos entre dois músicos de eleição, descoberta primeiro em palco e só depois em estúdio.
Juntos, Camané e Mário Laginha propõem um momento íntimo num confortável salão da casa que mobilaram. Um piano que serve uma voz que serve um piano, e que juntos servem as palavras de alguns dos maiores poetas portugueses, clássicos e contemporâneos, e as melodias ora do Fado tradicional ora da pena de compositores inspirados:
Não Venhas Tarde (Aníbal Nazaré / João Nobre)
Criado por Carlos Ramos em 1958
Com que Voz (Luís Vaz de Camões / Alain Oulman)
Criado por Amália Rodrigues em 1970
Quadras (Fado Alfacinha) (Fernando Pessoa / Jaime Santos)
Gravado por Camané em 2000 no álbum Esta Coisa da Alma
Se Amanhã Fosse Domingo (João Monge / Mário Laginha)
Inédito
Rua da Fé (Mário Laginha)
Instrumental inédito
Aqui Está-se Sossegado (Fado Espanhol) (Fernando Pessoa / José Júlio Paiva)
Gravado por Camané em 2015 no álbum Infinito Presente
Dança de Volta (Fado Bailarico, Fado Lopes) (Luiz de Macedo / Alfredo Marceneiro, José Lopes)
Gravado por Camané em 2008 no álbum Sempre de Mim
Abandono (David Mourão-Ferreira / Alain Oulman)
Criado por Amália Rodrigues em 1962. Gravado por Camané em 2015 no álbum Amália – As Vozes do Fado
Rua das Sardinheiras (Maria do Rosário Pedreira / Mário Laginha)
Inédito
Ela Tinha uma Amiga (Manuela de Freitas / José Mário Branco)
Gravado por Camané em 2001 no álbum Pelo Dia Dentro
A Guerra das Rosas (Manuela de Freitas / José Mário Branco)
Gravado por Camané em 2010 no álbum Do Amor e dos Dias
Amor é Fogo que Arde sem se Ver (Luís Vaz de Camões / Alain Oulman)
Inédito
Fado Barroco (Mário Laginha)
Instrumental inédito
A Casa da Mariquinhas (João da Silva Tavares / Alfredo Marceneiro)
Criado por Alfredo Marceneiro em 1961. Gravado por Camané em 2017 no álbum Camané Canta Marceneiro
Camané & Mário Laginha actuarão ao vivo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, a 20 de Dezembro.