1.
Tenho preconceitos, faço julgamentos de valor e não entendo algumas coisas que a vida prova fazerem sentido.
Falo das coisas importantes que se passam comigo e também das que não têm qualquer importância, até dos mexericos, do maldizer, do que é notícia nos lugares de famosos ou disso aparentados.
Queres um exemplo?
Não consigo entender a relação de Carlos Areia e Rosabela.
Não me entra na cabeça, é estranho ver um tipo de 63 anos começar uma relação com uma miúda de 16. Podia ser minha filha, teria ficado doido se fosse minha filha.
Alguém que está a dois anos da reforma, que tem mais 48 anos do que a miúda com quem dormiu, é uma persona non grata, um homem à partida imprestável.
2.
No entanto, estão juntos há 16 anos.
Há mais anos do que eu estive em qualquer relação da minha vida.
O ator tem hoje 80 anos e Rosa Bela 33.
E ela confessou numa entrevista recente que ainda não perdeu a esperança de ter um filho do Carlos.
Vemos as fotografias dos dois ao longo dos anos e parece ser uma relação forte e feliz, ela sorri luminosa e ele sorri embevecido.
3.
O que dizer?
Que quis escrever sobre os dois por serem exemplo de que alguma coisa incompreensível e condenável aos olhos da maioria, e da própria lei, pode tornar-se um jardim florido.
Que quando vemos tantas relações destruídas e famílias destroçadas, esta relação é um quase absoluto paradoxo.
Por nos agredir as certezas e nos convocar à humildade de entender que cada vida é uma vida, que o meu olhar não é o teu, que cada um tem um modo de ver e de sentir e de precisar.
Carlos certamente que ofereceu a Rosa o que ela precisava na vida.
E vice-versa.
O resto são preconceitos e julgamentos de valor.
Como os meus que neste caso não me é possível resolver por completo.