Putin assiste ao prometido braço de ferro aduaneiro entre Trump e a Europa como uma espécie de marmota Phill que rosna.
Sobre a Rússia recaem fundadas suspeitas de que interferiu em várias eleições norte-americanas. Ora, numa entrevista dada nas últimas horas em Moscovo ele reorienta para a União Europeia o boomerang de tais acusações. E solta os cães, vaticinando que os europeus estarão em breve “a abanar suavemente as suas caudas”, aos pés de Trump.
“Cães de papel”, poderiam ironizar em Pequim. Os mais antigos recordarão, certamente, a fórmula usada por Mao, há 70 anos, para classificar os imperialistas norte-americanos: “Tigres de Papel”, incapazes de resistir ao vento e à chuva. Eram outros os tempos. Há dias foi notícia que um jardim zoológico chinês pintou os cães de cor-de-laranja com riscas pretas, de modo a parecerem tigres.
A metáfora canina liga bem com Putin.
No seu recente livro de memórias, Merkel recordou o momento em que, num encontro oficial no Kremlin, Putin soltou um cão no salão, sabendo que a sua convidada lidaria mal com a situação. No livro, Merkel considera que aquela foi uma forma de o russo enviar sinais ao mundo.
Lord Blunkett, um antigo ministro inglês, cego, lembrou há tempos uma cena passada em Buckingham. A rainha Isabel II aguardava a chegada de Putin e o presidente russo estava, como de costume, atrasado. Quando, finalmente, Putin chegou ao palácio, o cão-guia de Lord Blunkett começou a ladrar. O então ministro pediu, por esse motivo, desculpas à rainha. Isabell II respondeu-lhe com uma pergunta irónica: “Os cães têm instintos interessantes, não têm?”.
Por agora, os factos a que devemos ater-nos são inequívocos: a Comissão Europeia fez saber ontem que retaliará energicamente se for alvo de tarifas aduaneiras semelhantes àquelas que Trump se propõe aplicar ao Canadá, ao México e à China.
A quem interesse: a marmota Phill, cujos dotes em previsões meteorológicas são apreciados não apenas na Pensilvânia, acaba de prever mais seis semanas de dura invernia.