Papel, lápis e pó de maquilhagem bastariam para um esboço de conversa, mas na luz rasante da manhã é pelo desenho que vamos. Munidos de palavras e do espanto, que é o seu jeito de nos ensinar.
Os primeiros desenhos, o primeiro fato de borracha, as primeiras poças de água salgada. Das Berlengas a São Tomé, o mar sempre por perto, mesmo nos anos em que sai de Portugal para mergulhar na ilustração científica, após a licenciatura em Biologia Marinha . As próximas expedições com o Grupo do Risco, onde a arte e a ciência se conjugam para descobrir as mesmas paisagens e olhares diversos. E o Curso Livre de Desenho, no Museu Nacional de História Natural, onde há já 12 anos partilha as técnicas e os saberes do desenho científico e do desenho de campo. Os peixes, claro, tantos que já nem sabe dizer quantos reproduziu na folha de papel, escama a escama, espécie a espécie. Também toca guitarra.
Tem 65 anos, um olho com mais rugas do que outro e a tez morena deixa adivinhar a pele batida pelo sol e pelo sal. Seja no fundo do mar ou com os pés bem assentes na terra, os seus traços alcançam a expressão mais íntima da Natureza. Pedro Salgado é Pessoa para Isso.