*****
Carlos do Carmo deixou-nos no 1.º dia de 2021. O País lamentou a partida de um dos mais importantes vultos da cultura Portuguesa, um dos maiores expoentes do Fado. O seu legado é imenso e a sua influência nas novas gerações vingará por muitas e muitas gerações de fadistas.
E, como principal herança, deixou-nos um disco de inéditos. Um disco todo preparado por ele, com a exigência e dedicação que lhe conhecemos todos durante quase 60 anos de carreira. Apesar de ter edição póstuma, “E Ainda…” foi todo ele concebido e criado em vida.
“E Ainda…” é, então, o último disco de Carlos do Carmo, com toda a carga histórica e simbólica que isso lhe imputa. Foi gravado ao longo de três anos e chegará às lojas fruto da intuição e da certeza de que “tinha coisas para cantar”, como referiu na entrevista incluída na edição deluxe deste disco. Sentiu que ainda não dispensava as palavras, sempre as palavras dos poetas e selecionou Hélia Correia, Herberto Helder, Julio Pomar, José Saramago, Vasco Graça Moura, Sophia de Mello Breyner e Jorge Palma e afadistou-os. “Para mim não faz sentido cantar o fado sem bons poetas”, disse.
Com o Fado tradicional como fio condutor, em “E Ainda…” também se ouve a música de Victorino D’Almeida, Mário Pacheco, Paulo de Carvalho e José Manuel Neto.
“E Ainda…” surge 13 anos depois de “À Noite”, o último álbum de fados acompanhado à guitarra, 8 anos depois do último álbum de originais, numa parceria com Maria João Pires, acompanhado ao piano. Pelo meio, ainda vieram o disco com Bernardo Sassetti, igualmente acompanhado ao piano, onde cantou originais e versões de temas de outros artistas e “Fado é Amor” onde revisitou temas da sua carreira ao lado de toda uma nova geração que o tem como mentor e referência no fado.
No concerto do Coliseu dos Recreios, em 2019, o último concerto que deu, na celebração dos seus 80 anos de idade sala, Carlos do Carmo desfiou memórias, revisitou uma carreira que teve o supremo condão de popularizar o fado junto de um público alargado que cresceu a ouvir ‘Os Putos’, ‘O Cacilheiro’ ou ‘O Homem das Castanhas’, ‘Lisboa Menina e Moça’, ‘Um Homem na Cidade’ ou ‘Canoas no Tejo’.
Esse e este momento são também o de celebração de toda uma vida a trazer ao fado a quem dele desconfiava, a mostrar o fado a quem o desconhecia, a mostrar ao mundo como Portugal tinha uma canção que nasceu nas ruas e sempre as soube cantar.
José Manuel Neto
MARIQUINHAS.COM
Vasco Graça Moura /Paulo de Carvalho
SOMBRA
Hélia Correia /Fado Menor do Porto
CANÇÃO DE VIDA
Jorge Palma
POEMAS CANHOTOS
BEM-DISPOSTO ENTÃO VÁ
Júlio Pomar / Paulo de Carvalho
JOGO DO LENÇO
(Fado Puxavante)
CANÇÃO
Sophia de Mello Breyner Andresen / Mário Pacheco
FADO ZÉ – FECHO
Mia Couto / José Manuel Neto
VOZ
Carlos do Carmo
GUITARRA PORTUGUESA
José Manuel Neto
VIOLA DE FADO
Carlos Manuel Proença
BAIXO ACÚSTICO