Por esta altura do ano, o carvalho galego cobre-se de flores que se agrupam em inflorescências unissexuais, em amentilhos masculinos e femininos abraçados na mesma árvore. É como se, entrelaçados nos poderosos troncos do carvalho galego, pitas e sardões festejassem uma eterna Páscoa de bolotas.
Gosto da palavra amentilho que pende, como esplendorosa insígnia, das mais portentosas árvores, dos amieiros ou dos salgueiros que namoram as águas, dos carvalhos que tornam os bosques inexpugnáveis. Gosto da palavra inflorescência iluminando os pedúnculos do carvalho galego que hoje será plantado em Lousada.
O município de Lousada iniciou, há quase dez anos, um projecto de restauro ecológico do território, envolvendo acções continuadas de voluntariado ambiental. Isso quer dizer que, nestes quase dez anos, foram organizadas mais de 300 plantações, envolvendo mais de 14 mil voluntários, o que permitiu restaurar mais de 100 hectares. Esta circunstância faz de Lousada um caso exemplar, merecedor de um amentilho de palavras gratas. Tudo somado, nestes quase dez anos, os de Lousada plantaram mais de 155 mil árvores. Não apenas carvalhos. Também medronheiros, sobreiros, salgueiros-negros, pilriteiros.
Tomai nota, senhores. O carvalho galego que hoje será plantado em Lousada, não é apenas mais um. O exemplar que hoje será entregue à terra de Gascos e Sousões é descendente do carvalho de Calvos, a admirável árvore com mais de 500 anos, a mais antiga da Península Ibérica e segunda mais antiga da Europa.
Muitos amantes da natureza procuram o lugar de Calvos, Póvoa de Lanhoso, para render homenagem a essa árvore que resiste desde o século XVI, contemporânea de Da Vinci e de Copérnico, de Gil Vicente e de Erasmo de Roterdão, de Fernão Mendes Pinto e de Garcia de Orta.
O acto de hoje, em Lousada, é mais do que um pretexto para a pedagogia da biodiversidade e do bem-estar da comunidade. É um hino à perenidade e à permanência.
Vivam os carvalhos galegos de Lousada.