Dos 308 concelhos do país, mais de um terço não tem uma estação de rádio com notícias locais, segundo o estudo “Desertos de Notícias – Europa 2022”, do Media Trust.Lab da Universidade da Beira Interior. O mapa da rádio pública revela que metade do território nacional não está coberto pela rede de correspondentes e delegações. Mas nem sempre foi assim. Ao longo da sua história, a rádio pública encontrou sempre formas de se aproximar do território.
A onda de nacionalizações que varreu a banca, os seguros e a imprensa diária chegou também à rádio, na sequência do 25 de Novembro de 1975. O Estado aglutinou à Emissora Nacional praticamente todas as estações de rádio do país. Nasceu a Empresa Pública de Radiodifusão e abriram-se as portas da descentralização.
Apareceram os piratas com os seus emissores clandestinos que desafiavam o éter. A luta pela legalização das rádios livres foi um dos momentos históricos que se atravessou no caminho da RDP: redesenhou o mapa radiofónico do país e deu novo fôlego à ideia de proximidade.
A jornalista Isabel Meira abre o baú da rádio à procura de momentos em que o território cabia inteiro e de outros em que o tempo se fragmentava, região a região.
Em Abrantes, bastião das rádios livres, António Colaço, um dos dinamizadores do movimento, partilha memórias da luta pela legalização e faz play no gravador de cassetes que registou o momento em que Ramalho Eanes, então Presidente da República, foi cúmplice dos piratas.
A provedora do Ouvinte da RTP, Ana Isabel Reis, e os investigadores Sílvio Correia Santos e Luís Bonixe reflectem sobre passado e presente, lembrando os “desdobramentos” da emissão e a necessidade de “mais país na rádio pública”.
Entre os sons de uma ninhada de bacorinhos com sede, junto à Ribeira de Odeleite, em Castro Marim, no Algarve, e a curiosidade como norte primordial de cada história, o que é, afinal, o “país profundo”?