Numa Europa varrida pelos nacionalismos, a rádio tornou-se num poderoso instrumento de propaganda para as ditaduras na década de 30 do século passado. Portugal não foi exceção, mas o projeto que fez nascer a Emissora Nacional não foi consensual. Um braço de ferro entre o setor musical e o Secretariado de Propaganda Nacional levou Salazar a enviar um capitão para pôr ordem na casa radiofónica do Estado Novo. Um trabalho de Isabel Meira.
À Emissora Nacional
Para a gente se entreter
E não haver mais chatice
Queiram dar-nos o prazer
De umas vezes nos dizer
O que Salazar não disse.
Transmitem a toda a hora,
Nas entrelinhas das danças,
«Salazar disse» Emissora
E aí vem essa senhora
A Estada Nova com tranças.
Sim, talvez seja o melhor,
Porque estes homens do estado
Quando falam, é o pior,
E então quando são do teor
Do chatazar já citado!
[post primavera de 1935]
Fernando Pessoa in “Vinte Anos de Poesia Ortónima, IV, 1934-1935”