Os dias estão mais curtos na “Terra Média”. As noites, outrora dedicadas às sagas dos contadores de histórias e aos feitos dos magos, tornaram-se agora refúgios. Em tempos de tumulto e ruído, os serões outonais são uma fuga. Mas… O mundo mudou e, com ele, a arte, o cinema e a própria noção de humanidade.
Poderá a IA criar bons atores?
Hollywood está, novamente, em chamas. Uma polémica estalou em setembro, quando o estúdio Particle6 apresentou ao mundo Tilly Norwood, atriz totalmente criada por inteligência artificial.
As críticas não tardaram a chegar. O crítico e jornalista Peter Bradshaw, do The Guardian, escreveu a 1 de outubro que “Tilly Norwood é um sintoma da cultura fílmica clichê”, apontando a crescente falta de autenticidade das produções modernos.
“Tilly Norwood é um sintoma da cultura sensaborona. Precisamos de um regresso à realidade”, artigo de Peter Bradshaw: theguardian.com/film/2025/oct/01/the-ai-actor-tilly-norwood-is-a-symptom-of-blandified-film-culture-we-need-a-return-to-reality
Leitores do The Guardian também manifestaram indignação: https:theguardian.com/film/2025/oct/01/tilly-norwood-ai-actress-reaction
O que também levantou o pó foi o facto de vários agentes e investidores de Hollywood demonstrarem interesse em representar a nova “estrela” virtual, o que não passou despercebido pela nata da nata do cinema.
A “atriz” Tilly Norwood está a deixar Hollywood em chamas. Ameaça ou façanha?: https://variety.com/2025/film/news/tilly-norwood-ai-eline-van-der-velden-1236543362/
Mas Hollywood não está sozinha neste dilema. A fronteira entre o real e o artificial também se esbateu nas redes sociais.
O caso mais controverso foi o de Lil Miquela, uma influenciadora virtual com contratos milionários, que chocou o público ao anunciar — igualmente por via digital — que estava com leucemia.
A reação foi imediata: acusações de manipulação emocional e exploração da empatia humana. A People resumiu o sentimento geral: “Indignação nas redes após robô anunciar doença para comover seguidores”: https://people.com/ai-influencer-faces-backlash-after-revealing-leukemia-diagnosis-11831122
“South Park”: O rei vai nu
Enquanto isso, na televisão, “South Park” continua a ser o espelho distorcido da nossa era.
A série, símbolo dos anos 90, mantém a sua irreverência, mas vive tempos conturbados: episódios lançados de forma irregular, atrasos de produção, e uma 27ª temporada que terminou abruptamente, alimentando teorias da conspiração.
O LA Times (15 out) relatou que a 28.ª temporada começou com sátiras ferozes a figuras como Peter Thiel e Donald Trump, cujo “pénis” foi tema central do episódio inaugural — algo que o Guardian descreveu como “o episódio mais gratuito desde o Trump nu”: http://latimes.com/entertainment-arts/tv/story/2025-10-15/south-park-season-27-end-season-28-premiere
Mesmo com críticas e ataques, os criadores continuam impassíveis. “We’re terribly sorry…”, disseram em entrevista à CNN, com o habitual sarcasmo.
Recomendações:
O Francisco Merino recomenda o documentário “Paraíso”, de Daniel Mota, sobre a cultura das raves nos anos ’90 em Portugal e o Programa Cautelar, da RTP.
A Kenia Nunes recomenda o livro “Annie Bot”, de Sierra Greer, um romance de ficção científica sobre uma androide criada para ser a namorada perfeita de um programador solitário e a série “Situações Delicadas”, da RTP Play.
O Álvaro Costa recomenda “A Knight of Seven Kingdoms” (HBO Max).