
Capa de “Deles por Mim (E à Antiga)” (2025), álbum de Raquel Tavares.
“‘Deles por Mim (E à Antiga)’ é um disco de fado. Não pretende ser mais que isso. Fados, na sua fórmula mais tradicional, acompanhados à guitarra portuguesa, viola e baixo, por músicos que fazem parte do meu percurso, no fado, nos álbuns e na estrada.
Gravado em takes directos, entenda-se músicos e voz em simultâneo, sem cortes ou rectificações. Tem por isso a crueza e as imperfeições que este método acarreta. Mas é tudo de verdade e era assim antigamente.
O repertório, esse talvez não seja o mais previsível, tendo em conta que se trata de uma mulher a cantar a poesia destinada aos homens. Poesia essa que relata, acima de tudo, o amor dos homens pelas mulheres, com tudo o que isso envolve: a paixão, o ciúme, o encantamento, a posse, o despeito e até a traição. A mulher, no seu todo, foi sempre uma das maiores fontes de inspiração para quem escreve, com imagens poéticas que só à mulher caberiam e daí nasceram alguns dos maiores clássicos da história do fado com interpretações sublimes que me desafiavam. Mas que aqueles com quem me fiz fadista diziam: – Esse não podes cantar, porque é fado de homem. – mas eu só queria saborear os versos… No momento em que decidi voltar a gravar um álbum, soube de caras que era isto que queria fazer, quase num atrevido ‘agora já posso’.
Deles por mim é tão somente uma imensa vontade de cantar, de voltar ao berço e à minha primeira identidade. Sem estigmas. Os fados deles, cantados por mim. Só isto. E à antiga.”
— texto de Raquel Tavares