O filme "A Morte
de Carlos Gardel", realizado pela sueca Solveig Nordlund, foi adaptado do
livro homónimo de António Lobo Antunes, que vê a sua obra no grande ecrã pela
primeira vez.
Com estreia
marcada nos cinemas a 22 de Setembro 2011, o filme abriu a 3ª edição do Festival Douro Film
Harvest a 5 de Setembro e terá uma pré-apresentação ao público a 17 Setembro,
no ciclo dedicado a António Lobo Antunes, no Teatro S. Luiz.
Sinopse
"A Morte de Carlos Gardel" é a história de Nuno, um
jovem toxicodependente em coma, a morrer num hospital. Durante os dois dias em
que se encontra entre a vida e a morte, cada um dos familiares evoca junto a
ele uma teia de recordações do passado, através das quais percebemos o presente
de Nuno. Álvaro e Cláudia, os pais divorciados e as suas novas relações
disfuncionais, Graça, a tia médica que nunca terá filhos porque vive com
Cristiana, todos eles se sentem culpados pelo estado de Nuno, pelos desalentos
da vida, mas também pelos sonhos que criaram.
O pai, Álvaro, apaixonado por
tango, recusa-se a aceitar a morte de Nuno, deixando-se levar numa espiral de
delírio e confundindo um imitador com o seu cantor de tango argentino favorito,
já desaparecido: Carlos Gardel.
Com este novo trabalho, Solveig Nordlund cumpriu
mais uma prodigiosa aventura pela adaptação cinematográfica de uma obra
literária. "Gosto de ler e gosto de me
identificar com um escritor. Nunca tive ambições literárias, mas gosto de
participar na escrita dos meus guiões". Tem sido nesta perspectiva
criativa, que algumas das mais importantes obras de curta e longa-metragem de
Solveig Nordlund se centram em narrativas literárias tão significantes, como
contos de ficção científica de J. G. Ballard ou H. P. Lovecraft e ficções de J.
Marmelo e Silva, Richard Zimler e António Lobo Antunes.
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ENTREVISTA A SOLVEIG NORDLUND
Onde começa esta relação com a obra de António Lobo Antunes que a
levou agora a escolher esta obra em particular?
Em 1997, fui convidada pela SVT – a televisão sueca
– para fazer uma introdução à obra de Lobo Antunes, que nessa altura era uma
dos candidatos mais falados para o Prémio Nobel. E comecei a ler António
Lobo Antunes. Li todos os seus livros e tornei-me fã da sua forma
impressionista de escrever. Gostei sobretudo de "Os Cús de Júdas",
"Fado Alexandrino" e "A Morte de Carlos Gardel". Com os
anos fui ampliando e completando o documentário até acabá-lo em 2010 com o
título "Escrever, Escrever, Viver". Entretanto tinha falado com
António sobre a possibilidade de adaptar " A Morte de Carlos Gardel"
para o cinema e ele deu-me carta-branca para escrever o guião.
Já trabalhou no cinema muitas obras literárias,
o que a cativa neste processo de compor imagens em cima das palavras?
Já fiz várias adaptações de obras literárias para o
cinema – "Até Amanhã, Mário" (de Grete Roulund), "Comédia Infantil" (de Henning
Mankell), "Aparelho Voador a Baixa Altitude" (de J.G. Ballard), "O Espelho
Lento" (de Richard Zimler) e agora "A Morte de Carlos Gardel" de António Lobo
Antunes. Não sei porque prefiro adaptar uma obra já existente em vez de
escrever uma história de raiz, que também fiz várias vezes – "Dina & Django",
"A Filha". Penso que me considero mais protegida quando houve outra pessoa
antes de mim a pensar na história e nas suas implicações. E é também um desafio
traduzir uma obra de que se gosta muito para uma outra linguagem.
Onde acaba a obra de António Lobo
Antunes e começa a de Solveig Nordlund?
"A morte de Carlos Gardel" é um exemplo
disto. Gostei muito do livro e da emoção que transmitia. O desafio a adaptá-lo
ao cinema foi tornar a história compreensível sem perder a respiração e a
emoção do livro. O livro estende-se no tempo e no espaço, tive que reduzir as
personagens e centrar a história ao essencial – a morte do filho
toxicodependente e como esta morte transforma as pessoas à sua volta.
Qual o aspecto que a atraiu mais nesta história?
O que me atrai nesta história é a grande culpa que
as personagens sentem. Não sabem agir perante os acontecimentos e
procuram desesperadamente algo que dê sentido e que lhes possa fazer·perdoar.
O pai procura um falso Carlos Gardel para dar sentido à sua vida depois
da morte do filho.
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A Morte
de Carlos Gardel
De:
Solveig Nordlund
Produção: Luís Galvão Teles / Fado Filmes
Produtor
Executivo: João Fonseca
Fotografia:
Acácio Almeida
Montagem:
Paulo MilHomens
Música
original: Pedro Marques
Com:
Rui Morisson, Teresa Gafeira, Celia
Williams, Carlos Malvarez, Miguel Mestre, Joana de Verona, Elmano Sancho, Ida
Holten Worsøe, Albano Jerónimo, Maria João Pinho.
Participação
especial: Ruy de Carvalho
E
ainda: Carla Maciel, Diogo Dória, Teresa Faria, Cecília Henriques, Maria
Arriaga