Antes do concerto, Ana Sofia
Carvalhêda conversou com Vitorino e Janita Salomé os mentores deste projeto.
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Um concerto irrepetível que a Antena 1 transmitiu na internet numa emissão com Armando Carvalhêda e Ana Sofia Carvalhêda.
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…O Alentejo precisava de abrir as suas portas à aventura, sair de si mesmo, ouvir outros cantes, outras vozes, sem deixar os seus, já se vê… Mas não tenhamos dúvidas: o Alentejo de outros tempos envelheceu, como tudo, e morreu. Ressuscitá-lo outra vez seria pura ilusão. Que as virtudes dos nossos antepassados e, toda a sua gloriosa tradição seja vivida e cantada ainda, no seu lindo cantochão, estamos de acordo. Mas tenho para mim que até ele o seu majestoso e misterioso cante, evoluirá, embora dentro dos moldes que o identificam com a nossa índole e a nossa história…
"O cancioneiro alentejano é vasto, rico e diversificado, mas para a sua preservação e enriquecimento é fundamental revitalizá-lo: dar-lhe continuidade com ideias novas, abri-lo à modernidade e divulgá-lo. O actual projecto «Moda Impura» – simultaneamente, um trabalho discográfico com lançamento agendado para dia 10 de Setembro, na Fnac Chiado e um espectáculo – dimana da vontade de preservar e revitalizar o cante alentejano, numa linguagem actual que torne ainda mais apetecível esta preciosidade da identidade cultural portuguesa, sobretudo numa altura crucial em que se prepara a sua candidatura a Património Imaterial da Humanidade. Ora, é munidos dessa vontade que Janita Salomé e Vitorino assumiram o risco de compor modas alentejanas sobre textos primorosamente escritos por António Lobo Antunes, bem como, o de envolverem instrumentalmente modas antigas inscritas numa tradição sedimentada ao longo de muitas gerações. O resultado, audível tanto no registo gravado como em palco, é gracioso e lírico, caso das modas «Mulatinhas e «Voa, pombinha, voa»; bem-humorado em «Passarada» ou maroto e divertido em «O que levas na garrafinha». Temas que entrecortam a maior densidade temática de outras modas que abordam, de forma arrepiante e apaixonadamente tocante, aspectos de uma vida onde a ideia de morte assoma com toda a sua naturalidade. As interpretações estão também a cargo do Grupo de Cantadores de Redondo, fundado em 1977, pelos irmãos Salomé, sob o impulso de Zeca Afonso.
O prestígio do grupo e o reconhecimento que cedo granjeou sobreveio-lhe de abordagens versáteis mercê de características locais, uma vez que, no concelho de Redondo, se encontram a tradição do cante polifónico com a de modos de cantar mais ligeiros próprios de um Alentejo que se estende a norte da Serra d’Ossa. O grupo averba até ao momento várias apresentações nacionais e no estrangeiro, tendo, em 2007, marcado presença na homenagem a José Afonso concretizada pela TV Galiza. Em termos discográficos, o grupo tem sido chamado a participar em diversos trabalhos dos irmãos Salomé, tendo gravado, em 1978, o LP «O Cante da Terra», que em 1997, viria a ser editado em CD, pela Movieplay. Neste registo os cantadores perpassam temas do alto e do baixo Alentejo. Mais tarde, em 2000, participaram no trabalhado «Vozes do Sul», uma inovadora celebração do cante alentejano assinada por Janita Salomé. Neste trabalho de homenagem ao cante alentejano, que recebeu o prémio José Afonso 2001, atribuído ao melhor álbum de música de inspiração popular portuguesa desse ano, colaboraram Vitorino e Filipa Pais, bem como, os grupos corais e etnográficos da «Casa do Povo de Serpa», «Os Camponeses de Pias», «As Camponesas de Castro Verde». A completar o reportório do espectáculo aparecerão em estreia composições inéditas de ambos os autores, concebidas para próximos trabalhos a solo."
Fonte: www.vitorinosalome.com