Ana Sofia Carvalheda conversou com a cantora-compositora e juntas desvendam “Chi-coração.
No seu surpreendente álbum de estreia a solo, "CHI-CORAÇÃO"", a cantora, multi-instrumentista, compositora e letrista Bia abraça a herança das ilhas em que nasceu e cresceu, os Açores, as suas raízes, a sua poesia, as suas memórias e a sua música tradicional, mas também passa por muitas outras músicas por onde já antes tinha navegado.
Na música e nas palavras cantadas por Bia (Beatriz Noronha) cobre-se o capelo e descobre-se o basalto, cheira a hortênsias e aos vapores das Furnas, sente-se a brisa do Atlântico e pressentem-se as brumas da Atlântida. "Sou de uma ilha, não há volta a dar" ouve-se numa das mais emblemáticas canções do disco, “Sou de Uma Ilha”. Mas nesta mesma canção, Bia inspirou-se numa frase que encontrou no aeroporto que a leva e traz, em constantes viagens de ida e volta, entre S.Miguel e Lisboa, onde vive desde os 18 anos: “Quanto mais saio da ilha, mais eu fico nela. Quanto mais fico na ilha, mais eu saio dela».
É por isso que ao lado de chamarritas, pezinhos, cirandas, sapateias ou balhos furados – nas suas formas mais tradicionais ou como inspiração para temas originais de Bia ou de Rui Filipe (o mesmo que já estava ao seu lado num dos projectos que, em Portugal, mais visibilidade deu à voz de Bia, Xaile) – há pop, há jazz, há rock, há hip-hop, há ecos de fado, de viras, dos grandes cantautores portugueses ou de música brasileira. Mas apesar destes elementos, digamos, exteriores, "Chi-Coração" nunca perde de vista a base que lhe serviu de inspiração: o reportório tradicional açoriano, as suas temáticas, as suas sonoridades e instrumentos próprios. E, apesar de haver apenas dois temas tradicionais no alinhamento de um álbum de catorze canções – "Josézito" e "Tanchão/Lundum", também anda por aqui o extraordinário tema “Lamento” (de João Miguel Sousa/Fernando Reis Júnior), composto para a série “O Barco e o Sonho”, baseada no livro de Manuel Ferreira e realizada por Zeca Medeiros, o lendário cantor, compositor, poeta, actor e realizador (que faz duetos com Bia em "Carta de Despedida" e "Tanchão/Lundum"). Também aqui neste disco se ouve a viola da terra (nascida nos Açores) tocada por Rafael Carvalho ou a voz da sua irmã Ana Braz nos coros de “Sou de Uma Ilha”.
Disco de amores e de afectos, de amizades e cumplicidades, "Chi-Coração" também conta com a participação de outros músicos que Bia queria muito que nele estivessem. Rui Filipe, claro, que assegura o acordeão, teclados, programações, vozes, percussões e algumas das guitarras, mas também Gustavo Roriz que toca viola caipira (a prima brasileira da viola da terra), a Arquitectuna (fundada pela própria Bia quando era estudante universitária), Cindy Gonçalves (violino), Sandra Martins (violoncelo e clarinete), André Reis (percussões) ou Francesco Valente (baixo eléctrico).
Entre a paixão pela tradição e uma constante modernidade oiça-se, por exemplo, "Monopólio" (o primeiro single a retirar do álbum), "Indecisa Decisão", "Meio a Meio", "Ora Vira", "Já te Disse Hoje" ou o tema de Pedro Osório "Uma Canção Comercial" (homenagem de Bia a este maestro e compositor recentemente falecido), "Chi-Coração" é o cartão-de-visita perfeito para uma jovem cantora mas que tem já uma longa história na música (ver Biografia) mas que só agora chega às edições em nome próprio. Música Popular Urbana Açoriana? Sim, com certeza.
Biografia:
Bia pisou um palco pela primeira vez com cinco anos e com seis anos já cantava com o Coro e com o Grupo Folclórico do Colégio na ilha que a viu nascer, São Miguel, no arquipélago dos Açores.
Iniciou os seus estudos de guitarra com dez anos e investiu também em aulas de ginástica rítmica, sapateado e dança. Foi aos 14 anos que assumiu profissionalmente a sua actividade de cantora, tendo participado em vários projectos musicais, de covers e originais e fazendo inúmeros concertos pelas ilhas e continente.
Na altura em que viveu nos Açores, Bia também cantava nos bares locais, adquirindo uma experiência musical que depois viria a desenvolver em Lisboa. Sempre ligada ao Jazz e à música tradicional, foi aos 18 anos que viajou para Lisboa para estudar Arquitectura, curso no qual se licenciou mais tarde, e durante esse período estudou canto e piano para aprofundar os seus conhecimentos na área. Foi nessa altura também que fundou a Arquitectuna, tendo sido sua regente durante alguns anos e onde se veio a interessar por outros instrumentos de cordas tais como o cavaquinho e o bandolim, e explorou arranjo e composição. Escreveu as canções originais da tuna e ainda hoje mantém uma relação com a mesma. Dividindo-se entre os estudos de música e arquitectura e umas idas às jam sessions dos bares lisboetas, partilhou o palco com diversos músicos das mais variadas áreas da música.
Corria o ano de 2005 quando Bia ingressou a banda Xaile, com quem viria a lançar o álbum homónimo em 2007, o que a fez pisar inúmeros palcos tanto em Portugal como no estrangeiro.
A partir de 2010 Bia começa a interessar-se pelo ensino da música acreditando na importância da iniciação musical na primeira infância, leccionando em diversas escolas, criando oficinas, ateliers e workshops para pais e filhos. Leva ainda esta sua vertente pedagógica às pediatrias dos hospitais da área de Lisboa com regularidade, através de sessões da Hora da Música como voluntária na Fundação do Gil.
Com uma vasta experiência musical e diversas participações, é em 2011 que Bia inicia a produção do seu álbum de estreia a solo, onde após 3 anos e meio de intenso trabalho, investigação, partilha e tertúlia com os seus pares, e em conjunto com o seu amigo de longa data Rui Filipe, explora as suas raízes, referências e experiências, assinando ainda algumas das canções, num disco – “Chi-Coração” — que está agora a ser editado.
Alinhamento
01-Monopólio
02-Ora Vira
03-Sou de Uma Ilha
04-Tanchão
05-Indecisa Decisão
06-Meio a Meio
07-Talento Nato
08-Uma Canção Comercial
09-Já te disse hoje?
10-Lamento
11-Josézito
12-Terelão-tão-tão
13-Carta de Despedida
14-Canto das Estrelas ( faixa escondida)
Ficha Técnica:
Bia – Voz, percussões e Coros
Rui Filipe – Acordeão, Teclados, programações, vozes, percussões e guitarras
Gustavo Roriz – Viola Caipira em “Indecisa Decisão”, “Tanchão/Lundum”, “Terelão-tão-tão”, “Josézito”, “ Meio a Meio” Guitarra Nylon em “Indecisa Decisão” e “O Canto das Estrelas”
Ricardo Esteves – Bandolim em “Indecisa Decisão” e “Terelão-tão-tão”
Arquitectuna – Coro em “Indecisa Decisão” e “Terelão-tão-tão”
Pedro Silva – Coro em “Indecisa Decisão” e “Terelão-tão-tão”
Rafael Carvalho – Viola da Terra em “Sou de uma ilha”, "Monopólio", "Josézito" e "Lamento"
Zeca Medeiros – Voz em “Carta de Despedida” e “Tanchão/Lundum”
Ana Braz – Coros em “Sou de uma Ilha”
Miguel Gonçalves – Trompete em “Tanchão/Lundum”, “Carta de Despedida”, “Indecisa Decisão”, “Terelão-tão-tão”
Ricardo Brito – Guitarra Nylon em “Talento Nato”, “Lamento” e “Sou de uma ilha”
Cindy Gonçalves – Violino em “Lamento” e “Terelão-tão-tão”
Sandra Martins – Clarinete em “Indecisa Decisão”, “Lamento”, Violoncelo em “Já te disse hoje?”
André Reis – Percussões em “Sou de uma ilha”, Cajon em “Talento Nato”
Francesco Valente – Baixo eléctrico em “O Canto das Estrelas”, “Terelão-tão-tão” e “Meio a Meio”
Pedro Vaz – Guitarras em “Terelão-tão-tão” e “Carta de Despedida”