Miguel Araújo esteve no "Programa da Manhã".
*****
"Giesta" é o nome do seu mais novo trabalho que é editado no dia 19 de maio.
«Vê-se o mundo pela fresta, não se avista o mar» é o verso que fecha e mais bem sintetiza esta íntima viagem de Miguel Araújo aos lugares da sua infância e ao aconchego de uma família numerosa.
Giesta é um disco que leva ainda mais longe o seu trabalho de cronista do mundo que o formou e todos os dias desaparece mais um pouco. Não é, porém, um trabalho saudosista ou um lamento sobre um tempo que já não volta; é, isso sim, um registo melancólico de uma época que, sem regresso possível, é preciso recordar.
Tudo quanto conhecemos nos dois discos anteriores (Cinco dias e meio e Crónicas da cidade grande) — a ironia, o poder de observação, a crónica do quotidiano — surge agora mais depuradas. É como se, de repente, um dos nossos amigos mais animados e bem-dispostos se sentasse no sofá de nossa casa e nos contasse a sua história.
Numa atitude de ruptura com o que é a cultura portuguesa, em que a saudade demasiadas vezes se confunde com um lamento do tempo passado, Giesta bebe da tradição anglo-saxónica de construção de canções como se fossem instantâneos da vida comum. Uma vida com tristezas, alegrias, pessoas, ironias. Uma vida tão incrível e banal como todas as outras.
Se a sua vertente de compositor já se tinha afirmado no trabalho com os Azeitonas ou com os temas criados para António Zambujo, Ana Moura e Carminho, este disco é a confirmação do escritor, bem expressa nas letras dos temas e nas curtas crónicas que os acompanham, que funcionam como uma espécie de realidade aumentada do poema.
Musicalmente, Giesta é um disco delicado e que respeita o carácter confessional da escrita. A produção e os arranjos desenhados a meias com João Martins e Bruno Pereira cumprem e sublinham a intimidade criada pelas palavras. O primeiro single, 1987, abre a porta a uma das mais interessantes vozes femininas portuguesas, Catarina Salinas (Best Youth), que empresta ao tema a subtileza redentora de um toque de calcanhar em Viena.
Neste regresso às origens, em Águas Santas, na fronteira indiscernível entre Giesta e Sangemil, Miguel recupera espaços e convoca familiares presentes e ausentes para reconstruir o universo afectivo que o formou. Com ele passeamos pelo Porto cosmopolita dos anos 80, pelos shoppings Dallas, Brasília ou Bazar Paris, vamos a banhos à piscina da Estalagem da Via Norte, conhecemos uma tia-avó amargurada por ter sido deixada no altar e, por fim, assistimos ao fim do rock, em pleno estádio de Alvalade.
Giesta transforma o universo pessoal de Miguel Araújo numa crónica da vida de todos nós, abrindo essa tal fresta capaz de transformar o particular em universal. Como se o mundo fosse do tamanho de Sangemil.
“Giesta” alinhamento:
1. Valsa em espiral
2. 1987
3. Meio conto
4. Via norte
5. Sangemil
6. Lurdes valsa lenta
7. O meu amor é como a rola
8. Acordo nupcial
9. O quarto de Glória
10. Axl Rose
11. Acalanto
12. Giesta
Letras e músicas: Miguel Araújo
*****
Miguel Araújo
"Estreou-se a solo em 2012 com o aclamado “Cinco Dias e Meio”. Dois anos mais tarde regressa com “Crónicas da Cidade Grande” e afirma-se com um dos nomes maiores da música portuguesa e um dos seus compositores mais respeitados; além dos temas escritos para os seus discos e para os discos d’ Os Azeitonas, compôs ainda para Ana Moura, António Zambujo e Carminho.
O ano passado, em conjunto com António Zambujo, Miguel Araújo concretizou a inédita façanha de realizar 28 datas nos Coliseus de Lisboa e Porto. Será a estas mesmas salas que regressa em Novembro deste ano para apresentar o seu novo álbum. “Giesta”, o terceiro álbum de originais de Miguel Araújo. Doze temas compõem este disco em que Miguel Araújo nos conduz numa viagem pelas suas “lembranças de pequeno”. Seguramente um dos álbuns mais aguardados do ano."