Para a rádio pública, o novo milénio trouxe a integração com a RTP numa nova empresa e com novas instalações. A rádio pública conseguira, nos anos 90 adaptar-se a um cenário de profundas transformações, alinhando-se com as tendências europeias de modernização da gestão pública e respondendo a uma crise de identidade que ameaçava o seu papel junto dos portugueses. A reestruturação do setor público de comunicação social redefiniu estratégias.
Apesar das novas dificuldades nos contextos interno e externo, a capacidade de resiliência garantiu-lhe relevância num ecossistema mediático em mutação. A sua sobrevivência passava por se aproximar das pessoas e dos seus novos hábitos de consumo, investindo numa lógica multiplataforma e explorando a digitalização como caminho inevitável.
A internet tornou-se a âncora dessa estratégia, num país onde o consumo de rádio continua maioritariamente tradicional. O chamado “apagão de 2025” revelou de forma inequívoca a importância vital da rádio como serviço essencial, reforçando a necessidade de manter uma ligação próxima com as audiências e de garantir presença em plataformas não lineares. Essa capacidade de resposta não só validou a missão de serviço público como projetou a rádio para o futuro, como elemento insubstituível no tecido social.
De entre uma multidão de programas e emissões cuja lista seria impossível reunir na íntegra, recordam-se alguns casos:
Na transição para o ano 2000, a Antena 1 e Antena 3 já transmitiam formatos como Conversa da Treta e Herman Difusão Portuguesa, com textos de Nuno Artur Silva e de Ricardo Araújo Pereira entre outros. O Portugalex chegou em 2006 mantendo-se até hoje nas programações de ambos os canais.
António Macedo foi a voz icónica das manhãs na Antena 1 durante década e meia. Outros destaques são o “Viva a Música” que se manteve por 24 anos no ar, um dos programas mais longos da rádio pública, sempre com música ao vivo.
Na Antena 2 a aposta na música clássica, jazz, músicas do mundo, e outras formas de criação cultural. Transmissões de concertos das mais importantes salas e eventos do mundo, programas como Ritornello, ainda no início do milénio e, mais recentemente, a Quinta Essência, a Ronda da Noite, Em Sintonia, Palavras Cruzadas ou Jazz com Brancas, entre outros.
A informação da rádio pública cobriu múltiplos eventos da maior relevância, in loco. O 11 de setembro de 2001, a tragédia de Entre-os-Rios no mesmo ano, a morte de figuras como Papa João Paulo II em 2004; os atentados em Madrid e Londres, a eclosão da guerra na Ucrânia em 2022, as Jornadas Mundiais da Juventude em 2023, o “apagão” em 2025.
A Antena 3 manteve-se sempre fiel à sua missão de apoiar a música portuguesa e os seus novos autores. O Portugália de Henrique Amaro sempre foi um porta-estandarte de autor na matéria. A Prova Oral de Fernando Alvim leva já mais de 20 anos no ativo ao final da tarde na Antena 3.
Em 2014, a rádio pública recriou o formato anual que várias estações europeias produzem, com uma maratona de 73 horas de emissão com entrevistas, concertos, atividades envolvendo a comunidade do desporto às artes, da política às empresas e associações. O Toca a Todos colocou por três dias a urgência da pobreza infantil na agenda do país, angariando quase meio milhão de euros por parte dos portugueses.
Recorda-se ainda a a popular “Quinta dos Portugueses” que, entre 2002 e 2004, reforçou o posicionamento da estação mais jovem do grupo público como a rádio que em Portugal mais apoiava a divulgação de música dos novos autores nacionais. Todas as quintas-feiras a rádio só passava autores portugueses. E o formato partiu depois em digressão pelo país com vários concertos por Portugal.
Em 2015 o formato da Antena 3 foi alterado. Com o slogan “Antena 3, a alternativa pop”, a estação alargou o universo para além da música jovem, incluindo a cultura pop. Uma mudança que simbolizava o distanciamento da noção de rádio “apenas jovem”, mas ao mesmo tempo com um foco muito mais alinhado com a produção de conteúdos multiplataforma, nos formatos 360º. A produção dos formatos “Elétrico” ou “No Ar”, transmitidos também na televisão, é disso bom exemplo.
A Antena 1 tornou-se a partir de 2022 a rádio oficial do Festival da Canção, formato histórico e de grande audiência da RTP1. A ponte entre rádio e TV permite dar aos artistas envolvidos uma visibilidade para além do concurso. E deste relacionamento nasceu o podcast “Falar Pelos Dois”.
Pacote de podcasts: a rádio pública disponibiliza hoje centenas de programas em RTP Play e nas principais plataformas digitais, cobrindo informação, cultura, desporto, música e ficção sonora com origem em todos os seus canais de rádio. Antena 1, Antena 2, Antena 3, RDP África, RDP Internacional, Antena 1 Madeira, Antena 1 Açores, Antena 3 Madeira e Rádio Zig Zag.
Desde 2007, a rádio pública lançou rádios online de oportunidade, canais específicos para eventos e efemérides: Campeonatos do Mundo e da Europa de Futebol com participação da seleção nacional, o Rali de Portugal, Rádio República (centenário da República Portuguesa), Rádio Brasil 200 (200 anos da independência do Brasil) e Antena 1 Memória – Rádio Liberdade (50 anos do 25 de abril).
A Rádio Zig Zag criada em 2016, tornou-se o maior projeto de produção áudio infantil em português em Portugal, com conteúdos para crianças dos 5 aos 9 anos, concebida para “dar o mundo às crianças” através do som.
Quem é vivo não esquece. A rádio pública estava lá e o dia de 2016 em que o golo de Éder valeu a Portugal o primeiro título europeu em futebol, sabe como o poder da rádio não tem par. Um golo em som que a memória não apagará. Tal e qual a recente conquista da Liga das Nações na Alemanha. A rádio pública estava lá como é a única a estar em todos os momentos.
E a história continua, rumo aos 100 anos.