A década de 80 trouxe um duplo desafio: sanear financeiramente a empresa que acumulava dívidas desde o tempo do Estado Novo (em 1984, a RDP tinha 3,9 milhões de contos de taxas por cobrar) e redefinir a sua missão perante um mercado em mutação. Era uma política de contenção, mas com tecnologia e informatização a acelerar. O primeiro saldo positivo dá-se em 1988, marcando uma viragem financeira.
Ainda sem operadores comerciais legalizados, a pressão vinha de dois lados: do crescimento da Radiodifusão Comercial (RC), com um modelo híbrido que explorava publicidade de forma agressiva, e das rádios pirata, que a partir de meados da década começaram a proliferar. Estas últimas representavam uma nova dinâmica: formatos mais curtos, linguagem próxima do ouvinte e segmentação musical. A RDP via-se obrigada a repensar a sua programação para não perder relevância.
A modernização tecnológica – O Plano Óptica Divisional/Serviço Público (1982) falava já da necessidade de diversificar plataformas. A cobertura em FM passou a ser prioritária, dada a superior qualidade sonora e a expansão de recetores domésticos. A OM começava a ser vista como suporte de alcance, mas com necessidade de renovação técnica. No final da década, a discussão sobre a migração digital já estava latente na Europa, e a RDP acompanhava de perto os estudos.
A década marca a transição de uma rádio predominantemente institucional para uma abordagem mais próxima das audiências. O Programa 2, com vocação cultural, experimentava formatos inovadores, enquanto a Antena 1 procurava equilibrar informação, entretenimento e serviço. O surgimento de magazines mais dinâmicos, noticiários com maior cadência e programas temáticos refletia a tentativa de acompanhar o ritmo urbano e as novas expectativas dos ouvintes.
A RDP Internacional teve um papel central na década de 80. Num período de emigração significativa e de redefinição do papel de Portugal no contexto europeu e atlântico, as emissões para comunidades portuguesas e em línguas estrangeiras reforçavam a vertente cultural e diplomática da rádio pública.
Inspirada em reflexões como as levadas a cabo pela BBC, a RDP entendeu que o serviço público não podia ser estático. Essa reinvenção gradual, marcada por avanços e recuos, preparava o caminho para a revolução que viria com a liberalização do setor no início dos anos 90.
A Antena 1 tem um reforço informativo. No dia da assinatura de entrada de Portugal na CEE, uma emissão especial e ligação à Rádio Nacional de Espanha. Na comemoração dos 60 anos, um conjunto de conferências e espetáculos com orquestras fizeram parte do programa. O programa “O Som da Malta” levou música ao vivo a várias regiões: 13 espetáculos realizados com produção e apresentação de Armando Carvalheda e com artistas como Paulo de Carvalho, Carlos Alberto Moniz, Pedro Barroso, Dina, Midus, Pop Dell’Arte, Jovem Guarda e Essa Entente.
Em 1981, o canal público cria o primeiro programa sobre trânsito e temáticas rodoviárias, chamado “Onda Verde”.
O programa “Gaita dos Sete Foles” dedicava-se em exclusivo à divulgação da música portuguesa.
Entre 1982 e 1984, há um reforço noticioso para travar a queda de audiências; definição de política editorial e normas para cobertura neutra.
Em 1984, a Antena 1 é a única rádio portuguesa presente em Los Angeles. A estação marca presença com cobertura no terreno da Volta a Portugal em bicicleta, do GP de Portugal de Fórmula 1 e do Rali de Portugal.
Programas itinerantes como Lugar ao Sul de Rafael Correia. Outros programas como Andarilho e Cavaleiro Andante exploram culturas locais.
A 13 de Julho de 1985 a Antena 1 e a Rádio Comercial, ambas do grupo RDP, fazem a transmissão do Live Aid, a partir do Estádio de Wembley em Londres e do JFK em Filadélfia, numa maratona de 16 horas.
Em 1987, a Antena 1 separa grelhas de Onda Média (programação generalista) e FM (conteúdos musicais diferenciados, contemplando múltiplas vertentes musicais, da música portuguesa ao rock, pop, R&B e Soul e vários programas divulgando tendências mais alternativas).
Como parte ainda do canal comercial da RDP, a Rádio Comercial, a iniciativa “Piquenicão” chegou a reunir cerca de 100 mil pessoas. Em 1981, a RC detinha mais de 50% da quota publicitária no mercado, ganhando a partir de 1984 maior domínio ainda com programas de divulgação musical destinados a uma audiência “urbana, jovem e dinâmica”.
Em 1986, começa o uso de um helicóptero para reportar o estado do trânsito matinal e em 1987 é criado o Prémio Jovens Músicos com o objetivo de descobrir e promover jovens talentos musicais, inicialmente focado em estudantes de música. O concurso começou com modalidades solistas e, em 1990, foi adicionada a categoria de música de câmara para incentivar a prática de música em conjunto. O prémio mantém a sua periodicidade anual.
A RDP Internacional emitia em várias línguas (português, inglês, francês, espanhol, italiano e alemão) para diversos continentes, com 200 horas semanais em português. Em 1984, a RDP Internacional abandonou as emissões pré-gravadas, aumentando o contacto com ouvintes (cartas recebidas duplicaram). Por razões económicas, as emissões internacionais em línguas estrangeiras foram progressivamente reduzidas e algumas extintas a partir de 1984.
O consumo elevado e custos técnicos das emissões em onda curta (OC) motivaram cortes, reduzindo emissões em 23% a partir de 1985. Em 1988, houve renovação técnica e reestruturação, passando a chamar-se RDP Internacional – Rádio Portugal.
Nos anos 80, a RDP foi reorganizada dando prioridade à regionalização, com sete programas regionais (dois nas ilhas, um no norte, três no centro e um no sul), investindo em emissões de proximidade e descentralizadas.
Os centros regionais dos Açores e Madeira tinham programação própria em OM e FM, com melhorias técnicas e de cobertura em 1984. A Rádio Porto e a Rádio Alto Douro tinham programação própria em OM, direcionada a públicos locais. Em 1988, a Rádio Porto foi integrada na estrutura da RC, passando a Rádio Comercial Norte (RCN), renovando programação e vozes.
Em 1986, a RDP tinha cerca de 580 horas semanais de programas próprios distribuídos entre várias emissoras regionais (RDP Norte, Centro, Sul, Rádio Porto, Nordeste, Alto Douro, Viseu, Guarda, Santarém e Elvas).
Em 1987, a Antena 1 tornou-se a divulgadora e parceira da Campanha do “Pirilampo Mágico” que ainda hoje se mantém. Iniciativa da Fenacerci que se tornou popular.
Foi a década de implementação da estereofonia e do sistema RDS (Radio Data System, pioneiro em setembro de 1988 na Antena 1), além de investimentos em material digital e feixes hertzianos para transporte de programas.
As Orquestras Sinfónicas da RDP (Lisboa e Porto) viveram uma etapa difícil nos anos 80 e acabaram extintas.