O Teatro O Bando vai estrear uma peça
baseada nos contos de Vergílio Ferreira, que precorrerá várias adegas da Rota
dos Vinhos da Península de Setúbal. Vai chamar-se "Auto Purificação" e para
além de teatro a peça tem uma forte componente musical ligada à guitarra
portuguesa e ao Fado e permitirá aos espectadores provarem alguns dos melhores
vinhos da região.
Antes da estreia Ana Sofia Carvalheda ouviu e conversou com Raul Atalaia e Rita
Cruz, dois dos protagonistas do Auto da Purificação que o Grupo
Teatro o Bando leva até às Adegas de Setúbal.
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A peça terá início a 26 de Outubro e estará em cena nas
seguintes datas e adegas:
26, 27 e 28 Outubro > Adega Cooperativa de Palmela
2, 3 e 4 de Novembro > Sivipa
9, 10 e 11 de Novembro > Adega de Pegões
16 de Novembro > José Maria da Fonseca
17 e 18 de Novembro > Quinta de Alcube
23, 24 e 25 de Novembro > Venâncio da Costa Lima
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AUTO DA PURIFICAÇÃO
O
espectáculo
Bem-vindos
a este momento único, a este banquete inusitado, a esta aldeia perdida que dá
pelo nome de Purificação. Bem-vindos a esta terra de barro onde o álcool é tão
banido como bebido, onde a água é tão venerada como
esquecida, onde uma fonte é tão necessária como
uma pipa, onde a união da população é tão rápida como
a zaragata, onde se confundem abraços e facadas, verdades e ebriedades,
políticas e festas, vinhos brancos e águas tintas.
Esta
criação do Teatro bando parte do existencialismo mordaz e irónico
presente nos contos de Vergílio Ferreira
para ocupar adegas e outros espaços não convencionais, fazendo da proximidade
entre actores e público a voz colectiva e popular que ao longo do espectáculo
vai definindo as decisões e os caminhos da aldeia. A implantação em estruturas
semelhantes a escadotes que estão disseminados pelo espaço conta também com o
envolvimento activo da comunidade
local que estará presente com alguns figurantes, após estes terem participado
ao longo de vários meses nas oficinas de formação da Confraria do Teatro.
No AUTO DA PURIFICAÇÃO, figuras
marcadamente populares, extravagantes, sarcásticas e excessivas, vão
desenrolando as suas histórias de ternura e crueldade, de radicalismo e
hesitação, de abstenção e bebedeira, para, num espectáculo marcado também por
um som festivo e tosco e por projecções de vídeo, darem a conhecer não só a sua
aldeia imaginada como as adegas por onde passam, onde o tempo teatral se alia
aos momentos em que o público poderá desfrutar dos vinhos e de outros produtos
regionais.
AUTO DA PURIFICAÇÃO | criação
Teatro bando | a partir de contos de
Vergílio Ferreira | dramaturgia e
encenação João Brites | música Jorge Salgueiro | espaço cénico João Brites e Rui Francisco | figurinos Clara Bento | com Raul Atalaia, Guilherme Noronha, Sara de Castro, Horácio Manuel, Rita Cruz (actores) e Pedro
Moura (Guitarrista)
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O Teatro
bando – entidade de Utilidade Pública, fundada em 1974 – constitui-se como
uma das mais antigas cooperativas culturais do país, assumindo-se como um
colectivo que elege a transfiguração estética enquanto modo de participação
cívica e comunitária. As suas criações definem-se pela sua dimensão plástica e
cenográfica, marcada sobretudo pelas Máquinas de Cena e pelo trabalho
dramatúrgico. Na sua maioria de autores portugueses, os textos encenados são a
grande parte das vezes obras não dramáticas, às quais a forma teatral confere
outra comunicabilidade.
O Teatro
bando continua a procurar o singularismo das suas criações através duma
metodologia colectivista onde se
procura a diferença, a interferência, a ruptura, a colisão
dos pontos de vista: rural ou urbano, adulto ou infantil, erudito ou popular,
nacional ou universal, dramático ou narrativo ou poético – tais as fronteiras
que o bando se habituou a transgredir.
Ao longo do seu trajecto o grupo tem estado ligado a múltiplos projectos
nacionais e internacionais e a aposta na itinerância
continua a levar vários espectáculos por todo o país e por
além fronteiras.
A instalação no
Concelho de Palmela e a sua actividade têm contribuído para o enriquecimento da
vida cultural local e regional.
Tendo iniciado a sua actividade no concelho em 1999 e estando instalado desde
2000, o grupo tem promovido, em Vale dos Barris, temporadas anuais de
apresentação das suas criações, tendo também levado a
cabo inúmeras outras actividades – encontros de reflexão
teórica, cursos de formação prática, oficinas para públicos infanto-juvenis e
adultos, actividades de dinamização para grupos escolares, actividades de
relacionamento com a comunidade
local, entre outras, das quais destacamos o evento comunitário PINO DO VERÃO.
Paralelamente, o Teatro bando também
se tem associado a diversas entidades e projectos no âmbito do desenvolvimento
local e regional, entre os quais importam destacar a ADREPES, a Comissão de
Protecção de Crianças e Jovens em Risco, o Conselho Geral da Escola Secundária
de Palmela, o Conselho Geral do Agrupamento Vertical de Escolas de Palmela, o
Fórum Cultura, o Programa de Acção de Recuperação e Dinamização do Centro
Histórico de Palmela, a candidatura
da Arrábida a Património Mundial e a Candidatura de Palmela a Cidade Europeia
do Vinho 2012.
Vergílio
Ferreira | Texto
Nasceu
em Melo, na Serra da Estrela, em 1916, e faleceu em Lisboa oitenta anos depois.
Frequentou o Seminário do Fundão e licenciou-se em Filologia Clássica
na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A par do trabalho de
escrita, foi professor de Português e de Latim em várias escolas do país.
Inicialmente neo-realista, depressa Vergílio Ferreira se deixou influenciar
pelos existencialistas franceses, como Malraux e Sartre, iniciando um caminho
próprio a partir do romance Mudança,
de 1949. É considerado um dos mais importantes romancistas portugueses do
século XX, tendo ganho vários prémios, entre eles o Grande Prémio de Romance e
Novela da Associação Portuguesa de Escritores (ganho duas vezes, primeiro com o
romance Até ao Fim e depois com o
romance Na tua Face), e o Prémio
Femina na França com o romance Manhã
Submersa.
João Brites | Dramaturgia e Encenação
Artista
plástico, cenógrafo, encenador e dramaturgista, é fundador e Director do Teatro bando e lecciona na Escola Superior
de Teatro e Cinema. Em Bruxelas frequentou os cursos de Pintura e de Gravura na
ENSAAV – La Cambre. No
âmbito das artes plásticas realizou diversas exposições individuais e
colectivas. É autor de inúmeros artigos sobre teatro e sobre o processo de
criação no bando e de algumas
comunicações feitas em congressos da especialidade. Orienta estágios e cursos
de formação no domínio do teatro. Encenou espectáculos e eventos no âmbito da
Europália e da Lisboa94 e dirigiu a Unidade de Espectáculos da Expo98. Em 1999
recebeu o grau de Comendador da Ordem do Mérito, em
2008 ganhou o Prémio Anual da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro com o
espectáculo SAGA e em 2010 a
sua encenação QUIXOTE recebeu o prémio SPA de Melhor Espectáculo do ano.