Inspirado na complexidade caótica do universo literário marcadamente masculino do autor, Confissões de um coração ardente mergulha a fundo nos seus romances, invocando o romantismo patente na sua obra. Para isso, e recorrendo a ambientes de grande subtileza, nos quais a tensão psicológica tem o lugar primordial no desenrolar da ação, o espetáculo explora, a partir de algumas das suas obras, a irracionalidade nos comportamentos dos heróis, as suas obsessões e os seus conflitos, traços indeléveis do realismo que caracteriza toda a obra de Dostoiévski. O cruzamento destes diferentes textos permite a possibilidade de um jogo de ligações entre os seus heróis, cujo objetivo será, acima de tudo, realçar os temas centrais do universo do autor: o Amor, a procura da Felicidade a todo o custo e a Liberdade do indivíduo.
É possível um homem ser feliz ao acreditar num ideal ou num sonho?
Partindo da seleção e organização dos textos escolhidos, Confissões de um coração ardente cria uma teia dramatúrgica flexível em que cada personagem, movida pelo Amor, expõe a sua condição humana. Privilegia-se a transversalidade do Amor, que nos heróis dostoievskianos é o principal motor das ações e da trama de que são protagonistas. Os discursos das diferentes personagens que gravitam em torno de uma figura feminina são habitados pelo sonho e pela dor, oscilando entre o trágico, o patético e o grotesco. O Amor, tantas vezes explorado, permite-nos aceder ora ao mais belo e elevado ora à imperfeição e miséria que caracterizam o ser humano que, neste espetáculo, será o mote para uma reflexão possível sobre a fragilidade, a falha e o ridículo de «Quando um homem ama uma mulher».