Todos os anos, desde que em 2010 a Companhia Maior foi criada, é endereçado um convite a um artista ou coletivo para criar um espetáculo para este grupo. Em 2020, devido à pandemia que nos desola, não foi possível cumprir este desígnio. Assim se chegou a um novo tipo de criação, uma instalação baseada nas imagens e memórias de infância dos seus intérpretes.
Partindo dos álbuns de família deste elenco, Marco Martins, em colaboração com Fernanda Fragateiro e Gonçalo M. Tavares, criou Natureza Fantasma, uma instalação a partir da forma como estes registos moldam a memória, fixando determinados acontecimentos de forma fantasmagórica.
Sendo um arquivo fotográfico um repositório mais ou menos sistemático, a sua dimensão pessoal e familiar aponta para uma construção em que o tempo se reveste de traços e narrativas afetivas, para além da sua dimensão estritamente cronológica.
Fotografias e filmes são, contudo, sempre formas de registar ações e informação, possuindo uma materialidade intrínseca e constituindo um recurso de expressão que os distingue dos outros discursos encontrados na dimensão pessoal e familiar.
A representação visual desse tipo de eventos (fotografias de estúdio, férias e diversas outras efemérides domésticas) implica sempre a construção de uma imagem representativa de uma narração que se pretende controlar.
Do confronto com essas imagens e a partir da presença das pessoas que compõem a Companhia Maior, agora forçosamente dissolvida no virtual, Natureza Fantasma agarra essa virtualidade como potência, dando corpo ao que está latente na dimensão ficcional de todas as biografias.
24 de junho a 16 de julho de 2021
- Terça-feira a domingo
- 10:00 às 19:00