Scott Matthew, cantor australiano há duas décadas a viver em Nova Iorque, descobriu nos últimos anos uma espécie de segunda casa em Portugal, mercê da sua parceria com Rodrigo Leão que além de um par de momentos isolados na discografia do compositor português rendeu ainda o álbum Life is Long, de 2016, e várias e importantes apresentações ao vivo.
Ode to Others é o novo álbum com que Scott Matthew pretende não apenas fincar os pés em 2018, mas também perspectivar o futuro a partir de uma outra atitude de vida e de criação artística: “É o primeiro álbum que escrevo que não se prende com o amor romântico. Apesar de haver um certo ar de romance no disco, não está ligado de forma alguma ao meu amor romântico pessoal. É acerca de pessoas e de lugares que não se relacionam com a minha dor romântica mais imediata”, esclarece o cantor.
No álbum anterior, This Here Defeat, de 2015, eram as pequenas misérias do amor, as grandes dores pessoais, que alimentavam a escrita de Scott Matthew, mas em Ode to Others algo de importante se altera: “Decidi escrever canções sobre outros assuntos. Odes para pessoas que eu amo ou admiro, pessoas até inventadas – e lugares que trago no coração. Isso foi revigorante para mim!”.
Há uma canção para o seu pai, “Where I Come From”, outra para o seu tio, “Cease and Desist”, para o seu parceiro, Michael, “Not Just Another Year”, uma celabração de um aniversário que já não se repetirá já que a relação terminou. E há também os caminhos que foi trilhando, desde a sua Austrália natal – presente na versão de “Flame Trees”, tema original dos australianos Cold Chisel – os passeios de duas décadas pela Grande Maçã em “The Sidewalks of New York” e até há ecos nos poemas das impressões recolhidas ao caminhar pelo lado mais histórico de Santarém, onde Scott se recolheu nalgumas das suas visitas a Portugal.
E há muito mais: a sua sentida homenagem às vítimas do massacre de Orlando, em 2016, membros da comunidade LGBT que foram abatidos a tiro num clube e que inspiraram as comoventes palavras de “The Wish” ou a ideia de que perante uma realidade como a que foi imposta por Donald Trump só a resistência importa, como a que ele canta em “The End of Days”. A dor continua, pois claro, a levantar questões, mas há uma leveza na sua versão do clássico “Do You Really Want to Hurt Me”, tema dos Culture Club que é também símbolo de toda uma geração que cresceu na década de 80.
E há muito mais: a sua sentida homenagem às vítimas do massacre de Orlando, em 2016, membros da comunidade LGBT que foram abatidos a tiro num clube e que inspiraram as comoventes palavras de “The Wish” ou a ideia de que perante uma realidade como a que foi imposta por Donald Trump só a resistência importa, como a que ele canta em “The End of Days”. A dor continua, pois claro, a levantar questões, mas há uma leveza na sua versão do clássico “Do You Really Want to Hurt Me”, tema dos Culture Club que é também símbolo de toda uma geração que cresceu na década de 80.
Com a ajuda de Jurgen Stark, o guitarrista que normalmente o acompanha ao vivo, Ode to Others não explora apenas novo terreno em termos poéticos, também se atreve a reinventar coordenadas em termos musicais que, explica o próprio Scott, troca o minimalismo de registos anteriores por canções que são mais expansivas em termos melódicos e harmónicos.
E, claro, tudo isto tem igualmente tradução em palco, com Scott Matthew e uma banda especial que se divide entre guitarra, teclados, ukelele ou violoncelo a desenharem o espaço perfeito para todas estas histórias, sobre pessoas, lugares e situações carregadas de humanidade, de amor, claro, de sentimentos a que todos se podem ligar. Interprete e compositor de mão cheia, dono de uma voz funda e singular, Scott Matthew entrega-nos esta Ode to Others com o requinte que só os grandes artistas conseguem, mesmo aqueles que se decidem a olhar para fora, em vez de para dentro. Além do novo álbum, o cantor que tem sabido dar voz a clássicos como o já citado “Do You Really Want to Hurt Me” ou “I Wanna Dance With Somebody”, este de Whitney Houston, promete revisitar os principais momentos da sua discografia que se estende já por meia dúzia de álbuns, incluindo Life is Long que assinou em 2016 juntamente com Rodrigo Leão.