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O cinema não é mais do que um itinerário que instaura o reencontro do homem consigo mesmo. Ou Ulisses de novo em Ítaca.
João César Monteiro
Quando João César Monteiro concluiu “O cinema sou eu”, adiantou-se na possível definição que podíamos fazer dele. Uma das figuras sagradas do nosso cinema, levado a sério por quem tivesse cinco tostões ou notas de mil no bolso, sempre à margem do considerado novo cinema português, atravessou sozinho “as coisas do cinema”, como ele próprio afirmou, rematando com um irónico “That’s all”. Aliás, à questão que ele próprio se colocou quanto ao que faria se não fizesse cinema, disse: “Fazia o que faço: tentativas para fazer como o Mr e Mrs Elliot de Hemingway. Ninguém morre por não fazer filmes e se morrer é idiota. Não vale a pena. Morre-se, sim, por fazer filmes, por na idade em que se fazem as opções mais importantes (que não são necessariamente as mais graves) se ter optado pelo ofício de cineasta. (…) Não me passa pela cabeça abdicar da disciplina que faz parte do destino que me impus.” (Auto-entrevista publicada no livro Morituri te Salutant, pela & Etc, 1974). César Monteiro soube mexer na vida, parafraseando o poeta Sá-Carneiro, com o escrúpulo do mestre e a visão do poeta: força, autenticidade e intrepidez. A inconveniência veio depois ou a jusante, como condição, fenómeno e representação da “coragem de assumir até ao fim a incomodidade da sua tarefa” (1968). Aliás, se considerarmos o seu discurso cinematográfico como um filme só, percebemos que é um filme mais de planos que de sequências: entre o cinema de ensaio documental, numa primeira fase [“Sophia de Mello Breyner Andresen” (1969), “Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço” (1970), “A Sagrada Família ou Fragmentos de um Filme¬-esmola” (1972)]; o cinema de lastro romântico e medieval, numa segunda fase [“Veredas” (1977), “Silvestre” (1981) e três curtas metragens baseadas em contos populares “A Mãe”, “Os Dois soldados” e “O Amor das Três Romãs” (1978/79)]; e o cinema da terceira fase, de carácter popular [(“À Flor do Mar” (1986) e “O Último Mergulho” (1992), passando por “Recordações da Casa Amarela” (1989), “A Comédia de Deus” (1995) e “As Bodas de Deus” (1998), ou “Le Bassin de J. W.” (1997), que é considerado pelo realizador como “a conclusão das aventuras de João de Deus”, fechada no filme testamento (exibido postumamente) “Vai e Vem” (2003), depois do polémico “Branca de Neve” (2000)]. César Monteiro existiu contra a “pornografia do cinema” que se expressava sob a forma de “filmes que, de modo mimético e transparente, macaqueiam a realidade, na expressão de Straub. Existiu para que os efeitos sobre a realidade prevalecessem sobre a realidade dos efeitos. Porque é de cinema que aqui se fala.
A Medeia / Leopardo Filmes organiza a respeito e por respeito a um dos realizadores mais fascinantes e geniais de sempre, o ciclo VIVA JOÃO CÉSAR MONTEIRO.
5 de Fevereiro
- RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA
- VAI E VEM
Teatro Municipal do Porto – Campo Alegre
6 de Fevereiro
- “FORMAS BREVES”: AS CURTAS-METRAGENS E ALGUNS POEMAS DE JCM [OS DOIS SOLDADOS + O AMOR DAS TRÊS ROMÃS + A MÃE + CONSERVA ACABADA + LETTERA AMOROSA + O
- BESTIÁRIO OU O CORTEJO DE ORFEU + PASSEIO COM JOHNNY GUITAR. Leitura de poemas de João César Monteiro por Isaque Ferreira]
Theatro Circo de Braga
11 e 17 de Fevereiro
- VAI E VEM
- RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA
Cinema Monumental – Lisboa
17 a 20 de Fevereiro
- RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA
- A COMÉDIA DE DEUS
- AS BODAS DE DEUS