Com o apoio da Antena 1, o IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema celebra este ano duas décadas de existência com uma edição que contará com o número recorde de 314 filmes divididos pelas suas diversas secções. A 20.ª edição do festival lisboeta arranca hoje (e prolonga-se até 7 de maio), com o filme de abertura Something You Said Last Night, primeira obra da realizadora ítalo-canadiana Luis De Filippis. Um filme que, aliás, funciona como um bom mote para a edição deste ano, uma vez que tem como protagonista uma jovem mulher trans e, nesse sentido, está alinhado com a atual tendência dos festivais de cinema internacionais.
Como salientou Susana Santos Rodrigues, da direção do festival, “há uma temática que sobressai nos festivais a que fomos, que são as questões de género”. Este ano presentes de forma mais marcada, as questões relacionadas com a identidade de género estão também refletidas em Orlando, Ma Biographie Politique, do ensaísta espanhol Paul B. Preciado, filme recém-premiado na Berlinale que pega na figura de Orlando de Virginia Woolf para dar uma visão atual das pessoas transgénero e que conta com a participação de pessoas trans e não binárias.
Este ano a competição nacional contará com mais de 20 filmes, entre eles obras como, por exemplo, Rosinha e Outros Bichos do Mato, de Marta Pessoa, Índia, primeira longa-metragem de Telmo Churro, o díptico Mal Viver e Viver Mal, de João Canijo (que venceu um Urso de Prata no Festival de Berlim), Cidade Rabat, de Susana Nobre, assim como as curtas Dildotectónica, de Tomás Paula Marques, Pátio do Carrasco, de André Gil Mata, e A Febre de Maria João, dos irmãos Afonso e Bernardo Rapazote. Ainda no plano nacional, mas fora de competição, é de destacar também Primeira Obra, de Rui Simões, “veterano documentarista que conseguiu apoios para uma estreia na ficção após 40 anos de tentativas”.
Também a secção competitiva IndieMusic, que faz a ligação entre o cinema e a música, oferece boas propostas, das quais se destacam o documentário Little Richard: I Am Everything, de Lisa Cortes, ou um miniciclo dedicado aos 50 anos do hip-hop com curadoria de Sam the Kid, assim como Miúcha, A Voz da Bossa Nova, de Liliane Mutti e Daniel Zarvos (sobre as contribuições para o movimento da bossa nova daquela que foi mais do que apenas a irmã de Chico Buarque), ou Squaring the Circle (The Story of Hipgnosis), estreia do realizador Anton Corbijn no documentário.
Serão ainda exibidos (dentro e fora de competição ou em sessões especiais) filmes como Saint Omer, de Alice Diop, Enys Men, de Mark Jenkin, The Eternal Daughter, de Joanna Hogg (com Tilda Swinton num duplo papel), Music, de Angela Schanelec, Pearl, de Ti West, A Casa de Dentro, documentário de Luís Alves de Matos que aborda o trabalho do artista plástico Carlos Nogueira, ou In Ukraine, de Piotr Pawlus e Tomasz Wolski. De ressalvar também que este ano a retrospetiva é dedicada ao realizador e artista visual checo Jan Švankmajer.
A programação integra ainda um foco dedicado ao “Trabalho e movimento sindical”, que antecipa os 50 anos do 25 de Abril, com uma escolha que inclui filmes de António Campos, Manoel de Oliveira, Harun Farocki ou Ben Russell. O festival apresenta ainda o programa Cinema-Cidade, que “põe em evidência ligações e ruturas entre o centro urbano e a periferia, através de uma seleção de filmes que trabalham questões como o urbanismo social, o desenraizamento ou a violência e a integração”.
Para o último dia do festival está ainda reservado um conjunto de sessões especiais sob o tema Cinema na Piscina, que ocorrerão literalmente dentro de água na Piscina Municipal da Penha de França. A 20.ª edição do IndieLisboa encerra no dia 7 de maio com o filme The Adults, de Dustin Guy Defa. Para além dos habituais espaços (Cinema São Jorge, Cinema Ideal, Culturgest e Cinemateca Portuguesa), este ano o festival estende-se também ao Cinema Fernando Lopes, localizado no campus académico da Universidade Lusófona.
Texto de Nuno Camacho
Esta quinta-feira, Pedro Miguel Ribeiro conduziu uma emissão especial do Mortinhos por Sair de Casa a partir do Cinema São Jorge — a propósito do arranque do IndieLisboa 2023.