“O cinema mudou, e mudou radicalmente, a partir de 1960. Com a eclosão das Novas Vagas, a herança dos clássicos foi-se cruzando com a ousadia experimental, gerando uma energia criativa cujas ramificações se prolongam até ao nosso presente. Esta é uma viagem através das memórias dos anos em que nasceu a modernidade cinematográfica.”
Essa é a premissa de A Década de Todos os Filmes, novo programa da Antena 1. Em dez episódios, o jornalista e crítico João Lopes recapitula um período fulgurante para o cinema, encapsulando passado, presente e futuro. “De facto, entre 1960 e 1969 surge uma avalanche de filmes que nos pode ajudar a compreender ‘toda’ a história do cinema — compreendendo a influência dos clássicos, detectando os sinais da modernidade”, diz o autor à Antena 1.
Temos razão em suspeitar que esta década foi marcante na vida de João Lopes? “Como espectador de cinema, posso dizer que sou da família da Nova Vaga francesa”, confirma o jornalista, citando alguns dos filmes que descobriu “no espaço de poucas semanas”: O Acossado, de Jean-Luc Godard, A Minha Noite em Casa de Maud, de Eric Rohmer, 2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, ou A Quadrilha Selvagem, de Sam Peckinpah. “Ou, um pouco mais tarde, em 1972/73, Persona, de Ingmar Bergman, Os Amores de uma Loira, de Milos Forman, ou António das Mortes, de Glauber Rocha.
Não se trata apenas da Nova Vaga francesa, contudo, mas também os movimentos que inspirou no Brasil, no Reino Unido ou mesmo em Portugal. “A minha geração teve esse imenso privilégio de descobrir o cinema através de uma fascinante convulsão de contrastes. Se isso nos deu alguma coisa, não foi qualquer espécie de ‘razão’ — foi, isso sim, a resistência a rótulos preconceituosos: nenhum filme é mais ou menos interessante por causa da sua origem geográfica, das suas raízes culturais ou do seu enquadramento financeiro”, continua.
No primeiro episódio, vamos até 1960, ano que engloba o já mencionado filme de Godard, mas também um exemplo de como também Hollywood estava em sintonia com a vanguarda: a “genuína revolução narrativa” de Psico, de Alfred Hitchcock.
Um alerta final: “Escusado será dizer que, em 45 minutos de rádio, não há qualquer ilusão enciclopédica na memória que se propõe. Trata-se apenas de citar e contextualizar uma pequena galeria de títulos emblemáticos do respectivo ano, cruzando tais referências com músicas, canções e, por vezes, diálogos de alguns filmes — creio que pode ser especialmente sugestivo ‘ouvir’ os filmes sem as respectivas imagens…”