John Carpenter nasceu em Carthage, Nova Iorque, a 16 de janeiro de 1948, e cresceu no estado do Kentucky, mostrando desde cedo interesse por cinema e música (o pai era professor de música na universidade). Depois de se transferir da Western University of Kentucky, ingressou na Escola de Cinema da Universidade do Sul da Califórnia, onde realizou uma curta de ficção científica cómica que mais tarde daria origem à longa Estrela Negra, estreada nos cinemas em 1975. Um ano depois, dirige Assalto à 13.ª Esquadra, em certa medida em homenagem ao seu ídolo Howard Hawks (reimaginando Rio Bravo num cenário urbano), dando aí o tiro de partida para um percurso de sucesso e iniciando também, por necessidade, a composição de bandas sonoras para os seus filmes que se tornaria um hábito recorrente.
Apesar de o título de “mestre do terror” ser redutor, é por esse terreno que inicialmente se distingue, desde logo com o seminal e muito influente Halloween (1978), que viria a ter uma vasta legião de imitadores e descendentes (é sua a patente do subgénero slasher). Porém, embora sendo um mestre do horror, com filmes que criam atmosferas ameaçadoras como O Nevoeiro (1980), Veio do Outro Mundo (1982), Christine – O Carro Assassino (1983), Príncipe das Trevas (1987) ou A Bíblia de Satanás (1994), John Carpenter sempre se revelou um realizador versátil e polivalente. Dirigiu sucessos de ação como Nova Iorque 1997 (1981) ou o subsequente Fuga de Los Angeles, em 1996 (ambos com Kurt Russell, um dos seus habitués), bem como o menos bem-sucedido comercialmente As Aventuras de Jack Burton nas Garras do Mandarim (1986), mas fez também incursões por outros géneros, como o drama romântico de ficção científica Starman – O Homem das Estrelas (1984), que valeu a Jeff Bridges uma nomeação para o Óscar de Melhor Ator, ou a alegoria política Eles Vivem (1988). No início deste século, afastou-se de Hollywood depois da má receção, em 2001, de Fantasmas de Marte, refugindo-se na realização para televisão (na série da Showtime Masters of Horror), e regressando apenas em 2010 em O Hospício, após o qual se dedicou ao seu trabalho de compositor.
Em 2014, no Dia das Bruxas, John Carpenter deu início a uma nova fase da sua carreira com Vortex, o primeiro single de Lost Themes, o seu primeiro álbum de originais compostos sem a finalidade de servirem de banda sonora (o realizador compôs a música da maior parte dos seus filmes). O seu estilo synthwave, caracteristicamente assustador e misterioso, e de que esse primeiro álbum é uma boa amostra, foi também pioneiro e deixou uma marca e um legado persistentes numa certa faixa próxima desse estilo (como Geoff Barrow, dos Portishead). Lost Themes ajudou a redescobrir o seu trabalho como compositor de música eletrónica, o que em parte também se deveu à reedição de muitas das suas antigas bandas sonoras pela editora Death Waltz Originals. Esse disco, tão evocativo como a música para os seus filmes, marcou o início de um renascimento criativo. Atualmente, depois de três volumes de Lost Themes e participações nas bandas sonoras de sequelas recentes do franchise Halloween, o estatuto de Carpenter como um inovador na música eletrónica é evidente.
Texto de Nuno Camacho