Foi a 2 de março de 1933 que se estreou em Nova Iorque King Kong. O filme foi realizado por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack e com o selo da RKO, à época um dos estúdios maiores de Hollywood, que se interessou pela proposta dos realizadores graças aos seus trabalhos passados: ambos produziram filmes com macacos que se revelaram um sucesso junto do público.
Mas King Kong era um filme com outras ambições. A história, hoje clássica, envolve Carl Denham (Robert Armstrong), a actriz Ann Darrow (Fay Wray) e uma equipa de filmagens que viaja até à Ilha da Caveira, para fazer uma produção exótica que sem dúvida faria as delícias dos espectadores nova-iorquinos, distantes daquele mundo de aventuras, mistérios e perigos múltiplos.
No entanto, o que Denham vai descobrir é algo que não estava à espera: naquela ilha, os nativos temem um monstro conhecido por Kong. Os norte-americanos observam o ritual daquela população, que vai sacrificar uma mulher para esse monstro. Mas eles são apanhados, e o chefe da tribo vê o potencial de Darrow para ser a sacrificada. Mais tarde, os nativos raptam Ann durante a noite e colocam-na no altar como a oferenda para aquele demónio que amaldiçoa a ilha. E eis que Kong surge. É um gorila gigante, um perigo ambulante que assim que a vê… se apaixona e mostra o seu lado mais emocional.
Aí começa uma das paixões mais improváveis dos filmes, e que prossegue com a captura de Kong e a sua apresentação como um espetáculo de exótico entretenimento em Nova Iorque. É claro que o gorila monstruoso tem mais força do que as correntes que o prendem, e acaba por fugir levando consigo Ann até ao topo do Empire State Building, onde luta contra os aviões, numa das sequências mais copiadas e parodiadas do cinema.
Mas o que é curioso, ao ver o filme original, é constatar que é bem mais violento do que se poderia imaginar. Os efeitos especiais de Willis O’Brien fizeram furor em 1933, com a sua mistura audaciosa de stop motion, miniaturas e muito mais. E se bem que hoje a ilusão possa parecer ultrapassada, assim como partes da sua narrativa, é difícil não encontrar encanto na técnica, e sentir surpresa ao ver os confrontos entre Kong e algumas criaturas pré-históricas da ilha da Caveira. Até a forma como o gorila mata alguns humanos é reflexo de um tempo anterior ao código Hays, que viria a ser implementado apenas um ano depois da estreia do filme e em que certas cenas já seriam impossíveis de se fazer. São momentos por vezes até mais custosos de ver, que depois foram censurados em reposições do filme nas décadas seguintes e só foram recuperados graças a um intenso trabalho de restauro no início do século XXI.
Noventa anos depois, King Kong é mais do que uma peça de museu: é um objeto muito do seu tempo, mas que se mantém num elemento chave do cinema da década de 30 e de uma certa ideia de espetáculo. E o gorila não nos abandonou, até porque gerou descendência, desde a sequela ao filme de 33 a sucedâneos, como uma produção dos anos 60 em que confronta Godzilla, até ao remake mais recente que recupera essa batalha… e a sua carreira não vai ficar por aqui.