Agora que podemos descobrir Lady Gaga no papel de Harley Quinn em “Joker: Loucura a Dois”, vale a pena perguntar se a sua presença ao lado de Joaquin Phoenix significa a consagração no interior da máquina de Hollywood. Afinal de contas, o novo filme — sequela de “Joker”, o grande fenómeno de 2019, também dirigido por Todd Philips — surge como um dos títulos marcantes da temporada final de 2024, apostado em confirmar que é possível lidar com o mundo dos heróis da BD sem entrar no regime de cópias de cópias com que a DC Comics e a Marvel têm desbaratado o seu riquíssimo património.
Em boa verdade, tal consagração já acontecera com o bem chamado “Assim Nasce uma Estrela” (2018), ao lado do actor/realizador Bradley Cooper. Sem esquecer, claro, que o “hino” musical do filme, “Shallow”, valeu a Lady Gaga o Óscar de melhor canção (distinção repartida com Mark Ronson, Anthony Rossomando e Andrew Wyatt) — eis o respectivo teledisco, concebido a partir de imagens do filme.
Lady Gaga (re)aparece em “Joker: Loucura a Dois” como uma figura global do “entertainment” que já ultrapassou qualquer possível fase de “experimentação” do cinema e dos seus particularismos criativos. Aliás, a esse propósito convém lembrar também que, entre os dois “Joker”, ela surgiu em “Casa Gucci” (2021), de Ridley Scott, interpretando com invulgar brilhantismo a personagem, de uma só vez trágica e burlesca, de Patrizia Reggiani, a mulher que contratou um assassino para matar o ex-marido, Maurizio Gucci.
Esta versatilidade decorre de um talento que vai do jazz ao rock, passando pela mais genuína alegria pop, versatilidade bem expressa na sua discografia, incluindo o recente álbum “Harlequin”, com canções que integram a banda sonora de “Joker: Loucura a Dois”, além de dois temas originais (um deles intitulado, justamente, “Folie à Deux”). Há poucas semanas, durante o Festival de Veneza, Lady Gaga anunciou a revelação do primeiro single de um novo álbum para este mês de outubro. Título do single? Título do álbum? Não sabemos. Data de lançamento? Talvez no final deste ano… talvez no começo de 2025…
Tudo isto foi acontecendo através de uma metódica gestão de imagens que se ligam sempre com a música. Que é como quem diz: Lady Gaga tem já uma magnífica coleção de telediscos que integra heranças, referências e narrativas que não são estranhas à exuberância espectacular que sempre foi um “selo” da produção de Hollywood. Vale a pena recordar o exemplo do teledisco de “Born This Way”, canção-título do álbum lançado em 2011 — até porque no começo ouvimos os célebres acordes do tema composto por Bernard Herrmann para o filme “Vertigo” (1958), de Alfred Hitchcock.