Um filme recente, “Twisters/Tornados” (aliás “remake” de um título de 1994), apresentou-se às plateias de todo o mundo como exemplo de uma velha matriz de espectáculo. Ou seja: a celebração da resistência humana perante as forças indomáveis da natureza — o programa “Duas ou Três Coisas” propõe um leque de memórias sobre essa tradição especialmente importante na produção de Hollywood.
A noção de “filme-catástrofe”, embora surja muitas vezes associada à primeira metade da década de 1970, é muito antiga na história dos filmes. Para nos ficarmos por um exemplo do começo do cinema sonoro, lembremos “San Francisco” (1936), uma realização de W. S. Van Dyke, com Clark Gable e Jeannette MacDonald, sobre o terrível abalo telúrico que atingiu aquela cidade americana em 1906.
Seja como for, foram títulos como “Terramoto”, de Mark Robson, e “A Torre do Inferno”, de John Guillermin, ambos lançados em 1974, que criaram uma verdadeira moda bem conhecida daqueles que frequentavam as salas há meio século. O primeiro, em particular, ficou como exemplo de uma estratégia industrial, não apenas apoiada no dramatismo das situações encenadas, mas também no seu enquadramento tecnológico — em salas de todo o mundo foi mesmo instalado um novo dispositivo de reprodução sonora (“Sensurround”) que potenciava os ruídos da catástrofe encenada.
Houve filmes que geraram séries de produções enraizadas em histórias semelhantes, com especial destaque para “Aeroporto” (1970), de George Seaton. Aliás, esse foi um caso “prolongado” através do humor da comédia, com outra série iniciada por “Aeroplano!” (1980), com chancela de Jim Abrahams, realizador/produtor que se especializou nesta matriz de espectáculo.
Será que o novo “Megalopolis”, de Francis Ford Coppola, já disponível nas salas de todo o mundo (incluindo Portugal) pode ser considerado um descendente directo desta tradição?… Enfim, não exactamente, embora lhe possamos reconhecer a mesma vontade de criar espectáculos “maiores que a vida”.
Curiosamente, entre as referências que os historiadores costumam citar como fundadoras deste modelo de grande produção, está um clássico que já deu origem a vários “remakes”: “King Kong” (1933), de Merian C. Cooper e Ernest B. Shoedsack. Não será que o macaco gigante, mesmo enredado numa história com o seu quê de melodramático, é um típico herói (ou anti-herói) de uma verdadeira catástrofe? Aqui fica a memória do trailer original.