Perante alguns fenómenos cinematográficos e, em particular, a propósito dos actores e actrizes mais populares, habituámo-nos a dizer que são fenómenos da globalização em que vivemos. Serão, por certo, mas importa relativizar tais fenómenos e lembrar que não são exclusivo do século XXI. Brigitte Bardot, por exemplo: a actriz francesa, a celebrar o 90º aniversário — nasceu em Paris, a 28 de setembro de 1934 — foi ao longo das décadas de 1950/60 uma verdadeira estrela global, sendo conhecida, reconhecida e admirada pelas plateias de todo o mundo. Escusado será lembrar que tudo isso aconteceu num mundo sem plataformas de “streaming”, telemóveis ou Internet…
O fenómeno é tanto mais curioso quanto, de facto, Bardot teve uma carreira relativamente curta. “E Deus Criou a Mulher”, o filme de Roger Vadim lançado em 1956, terá sido o momento fundador da sua própria mitologia, abrindo espaço para novas formas de abordagem do romantismo, da sexualidade e das relações masculino/feminino.
Depois, vimo-la em títulos como “O Desprezo” (1963), clássico de Jean-Luc Godard sobre os bastidores do cinema, “Viva Maria!” (1965), “western” paródico de Louis Malle em que contracenava com Jeanne Moreau, ou “O Urso e a Boneca” (1970), comédia romântica assinada por Michel Deville. “Se D. Juan Fosse uma Mulher”, de novo sob a direcção de Vadim, pode considerar-se o encerramento simbólico da sua filmografia — estava-se em 1973 e Bardot anunciava, de uma só vez, a sua retirada do cinema e a criação de uma fundação para a defesa dos direitos dos animais.
Curiosamente, Bardot protagonizou algumas “derivações” musicais, incluindo a gravação de “Je t’aime… moi non plus”, com Serge Gainsbourg (ainda que Jane Birkin acabasse por ser a voz feminina eleita para o lançamento desse célebre e, na altura, muito polémico dueto). Também com Gainsbourg, interpretou “Bonnie and Clyde”, grande sucesso dos tops de 1968, um ano depois do lançamento do filme homónimo realizado por Arthur Penn.
Entre os que, ao longo das décadas, foram “tentados” pelas canções, encontramos, por exemplo, Nicole Kidman, refazendo com Robbie Williams “Somethin’ Stupid”, tema celebrizado por Frank e Nancy Sinatra. Ou ainda Catherine Deneuve, integrando com charme e elegância o universo de Malcolm McLaren em “Paris Paris”.
Sem esquecer as proezas porventura menos conhecidas, mas igualmente sedutoras, de actores como Leonard Nimoy (ele mesmo, o lendário Spock de “Star Trek”), River Phoenix (com a sua banda Aleka’s Attic) ou Jerry Lewis (em paralelo com as comédias em que repartiu o protagonismo com Dean Martin). É caso para dizer que a história do cinema se conta também por música — e através de canções que vale a pena voltar a escutar, alguma delas recordadas no programa “Duas ou Três Coisas”.