Aquele verde, com franqueza, não é o “verde que te quero verde”, não é o verde do Lorca, não lança “um barco sobre o mar”, nem um cavalo à brida na montanha.
Nem é a “verdura bela” da cor de limão sobre a qual Camões estendeu os olhos de seu coração.
Não basta guardares num saquinho escondido no bolso um pó verde desmaiado para que ele se transforme na tinta verde com que Octavio Paz fez o seu poema ambiental. No poema de Paz, “a tinta verde cria jardins, selvas, prados /folhas onde cantam as letras, /palavras que são árvores, / frases que são verdes constelações”.
O vosso não é verde lima. É verde limo, viscoso, peganhoso.
Não se lança um verde, seja qual for o tom, à cara de um homem que nos aperta a mão. Não há desculpa, nem a dos verdes anos. Não há clemência, seja o verde oliva ou esmeralda, turquesa ou marciano.
Seja o verde verdinho
O grande poeta Manoel de Barros viu que a tarde estava verde “no olho das garças”. Drummond gostava de se deitar “à sombra doce das moças em flor” que era “uma sombra verde, macia, vã”. Não assim o verde que levas escondido, num plástico manhoso, o verde que te preparas para lançar à cara de um homem que te aperta a mão.
Não acaba bem o poema a que Leminski chamou “Verdura”. Começa assim: “De repente, / me lembro do verde, /a cor verde / a mais verde que existe/ a cor mais alegre / a cor mais triste / o verde que vestes / o verde que vestiste / no dia em que te vi / no dia em que me viste”. Se te deres à maçada de o ler, verás que não acaba bem.
Como não acabou bem o verde que a tua mão tornou eléctrico.
Diz-se que a cor verde alivia o stress. Mas não um verde assim, manhoso, embrulhado em plástico, leveza fóssil de bolso. O vosso é um verde papel da parede à qual bem podeis limpar as mãos.