1.
No princípio do ano que entra, António Ramalho Eanes fará 90 anos.
Já teve muitas homenagens, muitos reconhecimentos, muitos abraços e aplausos…
…, mas não os suficientes.
Merece mais, merece homenagens, reconhecimento, abraços e aplausos até ao último dia da sua vida.
Porque um dia que parta ficaremos a pensar no que não lhe dissemos.
2.
O General nunca teve medo de não ser amado.
Cometeu erros, mas todos os que cometeu, até quando formou (sem formar) um partido político, foram numa lógica que fazia sentido no tempo, uma lógica de bem e de preocupação com o país.
Não se desviou do caminho, mesmo quando não era popular o que defendia.
Enfrentou de peito aberto os perigos sem temer pela vida – no 25 de Novembro, mas também nas eleições presidenciais de 1976 ou no seu primeiro mandato como Presidente, foi decisivo para que a democracia pudesse ver a luz do dia.
Muitos o desafiaram com soluções militares, mas Ramalho Eanes foi sempre profundamente democrata.
Tinha a capacidade de ser duro e terno.
Racional e afetivo.
Frugal e generoso.
Militar e intelectual.
3.
Os seus dois mandatos em Belém foram míticos, mas o modo como viveu após deixar a política sublimou o seu lugar na história.
Soube ser uma reserva da República falando poucas vezes. Poucas, mas decisivas.
Atacou as regalias dos que exerciam o poder, mas deu o exemplo sacrificando a sua reforma em nome dessa coerência.
Abdicou também dos retroativos de mais de um milhão de euros a que legalmente tinha direito.
E abdicou de ser Marechal por uma questão de princípio.
Falou ao país quando todos estávamos em pânico com a pandemia. Apelou à nossa coragem e comunicou aos portugueses que ele e a sua mulher, Manuela Eanes, tinham decidido em
família prescindir dos ventiladores se porventura fossem internados.
Era o tempo em os portugueses morriam nos hospitais, o tempo em que os ventiladores não chegavam para todos.
Defendeu também a importância do conhecimento até ao fim da vida e teve a humildade de tornar à universidade para fazer o doutoramento.
4.
António Ramalho Eanes vai completar 90 anos em janeiro.
É casado com a mulher da sua vida, Manuela.
Uma mulher com luz própria. Uma mulher que criou o Instituto de Apoio à Criança retirando dezenas e dezenas de crianças da rua ou de destinos imprevisíveis.
Sempre com ele ao lado.
Sim, quero homenageá-lo em vida.
Homenageá-los.
António e Manuela são o país no que este tem de grandioso.
Texto e programa de Luís Osório
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