O repórter fotográfico Carlos Barroso, da agência Lusa, deu asas a um olhar de ave marinha, e deixou-se levar na crina dos mais altos ventos, acima dos magotes que seguiam, nas arribas da Praia do Norte, a dança dos surfistas com a tempestade Ivo, na Nazaré. O DN dá-nos uma das suas formidáveis imagens, uma primeira fila na última página, explicando que a Polícia Marítima cortou o trânsito para o farol, o que não impediu os amantes do surf de seguirem o português Nicolau Von Rupp enfrentando a tempestade Ivo. O jornal Público abre mais o mar da página para acolher os desafiadores da tempestade.
Poucos dias antes, o jornal Globo seguiu, na Nazaré, em plena tempestade Hermínia, o combate corpo a corpo entre o sergipano William Santana e um muro de água de trinta metros. Podia ser um cenário para a peça shakespeariana.
A Tempestade estava em cena, há dias, no mais antigo teatro de Inglaterra, quando dois activistas de um grupo ambientalista invadiram o palco, protestando contra a inacção dos dirigentes políticos face às alterações climáticas. Este grupo tem desenvolvido acções semelhantes, nos lugares mais inesperados, em Wimbledon ou junto ao túmulo de Darwin. Não consta que tenham tentado anular as ondas da Nazaré, prejudicando a actuação de William Santana.
O nome William, no teatro das ondas, puxa, aliás, a tempestade.
Tal como na peça, ele grita que é da mesma substância de que são feitos os sonhos, as ondas e a tempestade são a sua ilha de Próspero.
E por isso, ele sonha a onda de Santana, é o seu epónimo salgado.
Como se, no areal, a prancha debaixo do braço, ele repetisse o estribilho de uma canção de Chico, “vou para a rua a bebo a tempestade”.
Os jornais dão notícia de ventos fortes e agitação marítima nos municípios litorais da sua Sergipe. Aracaju. Japaratuba, Nossa Senhora do Socorro. Ele semeou o vento na sua cidade e atravessou o mar para subir ao alto de uma parede de água, mais veloz do que um cavalo marinho, devagar é que não se vai longe.
O repórter fotográfico Carlos Barroso sobe à mais alta arriba seguindo a dança na prancha. Caliban abraça em espuma a bela Ariel. Não tenhas medo, a praia está cheia de ruídos. Barroso merece uma caldeirada na mesa de McNamara, na Celeste.