Leio no Jornal do Centro que mais de duas mil plantas de cardo cuidadas nos últimos anos por uma equipa académica liderada pelo professor Paulo Barracosa, da Escola Agrária de Viseu, em terrenos do Instituto Politécnico, correm o risco de ser arrancadas e transferidas para lugar incerto. Um conjunto de interesses, a que se associa a Câmara de Viseu, pretende instalar no campo de cardos um parque de estacionamento. A situação inquieta e indigna a comunidade científica e cidadãos mobilizados num abaixo-assinado a que aderiram, a esta hora, mais de duas mil pessoas.
Ouvido pelo Jornal do Centro, o professor Paulo Barracosa lamenta que esta decisão desconsidere um muito inspirador trabalho de investigação de década e meia que fez da Escola Agrária de Viseu uma referência internacional no estudo e valorização de uma planta multifuncional que tem tanto para dar. Ainda recentemente o queijo da Soalheira que utiliza a flor do cardo como agente coagulante foi considerado o melhor do mundo, num certame internacional realizado em Viseu.
Em Abril do ano passado fui a Viseu conversar, para o programa Tão Longe, Tão Perto, que realizei nesta rádio, com o investigador Paulo Barracosa, cujo livro “Cardo Máximo” surpreendia a comunidade científica e empresarial ao revelar as potencialidades de uma das plantas mais resistentes às alterações climáticas e da qual tanto se pode esperar, em áreas tão diferenciadas como a dos aglomerados ou a fitossanitária. Na ocasião, o cultivo do cardo fazia parte de uma experiência prometedora numa quinta de Santar, revelando resultados muito interessantes no acompanhamento preventivo de todo o ciclo vegetativo da vinha. O cultivo do cardo faz ainda parte de um projecto inclusivo no estabelecimento prisional de Viseu que tem dado bom resultado.
Nunca esquecerei o entusiasmo do professor e dos seus alunos que me deram a provar mel de cardo, licor de cardo, cerveja de cardo, alheira e cogumelos de cardo. Nas notas que tomei desse dia em Viseu e em Santar retive a pergunta feita pelo próprio investigador sugerindo o tanto que ainda há a esperar do trabalho realizado pela equipa da Escola Agrária de Viseu: “Que planta é esta que se dá toda?”.
Tenho estima pessoal pelo presidente da Câmara de Viseu que considero uma pessoa sensata. Creio que Fernando Ruas deveria conversar com o professor Paulo Barracosa, diante do campo de cardos agora ameaçado. Brindo, com licor de cardo, a que essa conversa possa ocorrer e se possa evitar um tão rude golpe numa experiência da qual a região de Viseu deve orgulhar-se.