Folheando o jornal “Região de Leiria” deparo com a foto de Toni, um dos meus mais antigos heróis do futebol, na página dedicada aos mais velhos. A foto foi tirada no pavilhão dos Pousos durante uma sessão demonstrativa do oficialmente designado Walking Football (que passarei a designar como Futebol a Andar). O que me chamou a atenção foi a camisola verde envergada por Toni. Na foto, o velho capitão, agora em nova missão na Federação Portuguesa de Futebol, abraça Zeferino Galvão, de 96 anos. Zeferino, a quem Toni colocou a braçadeira de capitão, tem na camisola, tal como Toni, o número 25. São camisolas que marcaram os 25 anos do programa Viver Activo. O que acontece naquele pavilhão é a maior concentração de praticantes do futebol a andar, todos com idades acima dos 50 anos.
Confesso que nunca ouvira falar da modalidade e perguntei aos camaradas das notícias, conforme iam chegando, se estavam sabedores da sua existência. Nada. Só o Mário Silva da Costa, o mais novo do grupo, que leva às costas o planeta desportivo, sabia sim.
Vale a pena espreitar a página oficial do Futebol a Andar (oficialmente designado por uma expressão em língua inglesa). Jogam cinco de cada lado, não há contacto físico, não é permitido correr, os jogadores não podem dar mais do que três toques seguidos; não há guarda-redes. As balizas têm três metros de comprimento e um de altura. A bola não pode subir acima da cintura. Os golos são válidos apenas quando o remate é feito dentro da área de penalti. Os penaltis são marcados na linha de meio campo. Um jogador substituído pode regressar ao jogo. Agradeço ao bigode do Toni sorrindo na ombreira de uma camisola a descoberta desta maneira tão ágil e exultante de cultivar a lentidão. Futebol a andar, desporto de cinquentões ou acima de isso, não é o mesmo que jogar a passo. Embora, nem de propósito, o jornalista Vitor Almeida Gonçalves, editor do Record, escreva hoje, a propósito do pobre desempenho da selecção, que “jogar a passo é walking football”. Percebe-se a ironia, mais do que justificada, depois de um jogo tão pobre e tão parado de ideias.
Mas, por aquilo que se me revelou a partir de um bigode e de uma camisola verde na página dos mais velhos de um jornal regional, esta modalidade, este Futebol a Andar, esta ideia mobilizadora de caminhar com bola e amigos, acolhe a mais apurada táctica e a velocidade estonteante do pensamento abrindo linhas de passe.