1.
Nuno Markl tem 53 anos e mais trabalho do que nunca.
Há três décadas que dele ouvimos falar – ou porque morde o cão, ou por encher salas com as suas produções, ou por lançar livros, ou por estar na televisão, na rádio, por fazer publicidade, escrever guiões, filmes, comentários em redes sociais ou antes destas existirem.
É uma das minhas estrelas preferidas, um caso de sucesso que é um milagre por não fazer o que o tempo pede, por fazer coisas que teoricamente o condenariam ao insucesso.
2.
Mas tem sucesso e isso é admirável.
Nuno não é alto, magro, musculado.
É desajeitado, gagueja, tropeça.
É demasiado informado sobre bijuterias e lados B.
É palavroso, o seu humor tem demasiadas referências.
Fala de livros, filmes, séries, discos e, aparentemente, não se importa com a audiência.
Veste camisolas largueironas que não lhe assentam bem e parece estar sempre com ténis mesmo quando usa sapatos.
Pouco ou nada lhe assenta.
3.
No entanto…
…no entanto, está há trinta anos na primeira linha.
É uma espécie de Woody Allen sem Nova Iorque, sem psicanálise e sem Mia Farrow.
Também sem a perversidade.
Olhamos para o Nuno e desejamos tê-lo como amigo. Se nos pedisse dinheiro emprestado não haveria problema, se nos vendesse o seu carro em segunda mão dificilmente hesitaríamos.
É confiável, culto, verdadeiro.
Tudo nele é natural, como se estivesse em nossa casa ou a almoçar ou jantar na tasca da esquina. Faz-nos rir, mas juraríamos ser um improviso, uma conversa de amigos.
4.
É um cromo.
Um “nurd” da contemporaneidade, quase impossível de catalogar.
Não é bem humorista.
Não é bem guionista.
Não é bem ator.
Não é bem escritor.
Não é bem comentador.
Não é bem radialista.
Não é bem um comunicador.
Não é bem-nada, mas é tudo isso.
E mais algumas coisas.
Nuno Markl, e nisso talvez estejamos de acordo, é simplesmente único.
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