A tarde ia alta, o ânimo nem tanto, instada pelos jornalistas a pronunciar-se sobre o futuro político de Pedro Nuno Santos, quando nos rodapés televisivos corriam já projecções desanimadoras, Alexandra Leitão respondeu: “É muito prematuro falar do futuro de Pedro Nuno”. Viu-se. E mesmo o futuro de Montenegro não lhe augura um sono tranquilo no quadro que se desenha.
O fio de análise em que se move, avisadamente, o editorial do JN esta manhã leva à pergunta sem resposta: “Que vitória é esta? O futuro dirá”.
“Sempre o futuro, sempre! E o presente / Nunca!”, grita, de novo, o soneto de Antero.
Mas eis que Mariana Vieira da Silva lança para o debate interno a acusação de que o PS legitimou demasiado as posições do Chega, por exemplo no dossier da imigração, mas “falou muito pouco de futuro”.
Ficou o presente mais atafulhado de tralha do passado. Os tantos que, entretanto, do presente se perderam, se têm vindo a perder, repetindo modos antigos de prometer futuro, deveriam refazer azimutes e rever processos.
Agora, talvez devessem, todos, tirar o futuro da boca. A poucas horas de o presente o armadilhar, Pedro Nuno desafiou os eleitores que o viram votar em Telheiras: “Não deixemos para outros a decisão do futuro”. Mas, ao contrário do que prometia um dos cartazes do Rato, “o futuro (não) é já”. Nem sequer para Ventura, por mais que reclame para o seu partido “a própria ideia de futuro”, sob o argumento de que os resultados eleitorais de ontem mudaram o sistema político “para sempre”. Quem se deixar de futuros meramente proclamatórios, talvez possa e saiba criar entendimentos que safem o bloqueio do presente.
Ponde os olhos e os ouvidos no grande goleador Gyökeres. Quando lhe perguntaram pelo futuro, no final do jogo da vitória, respondeu: “Futuro? Ainda estou aqui e não sei o que vai acontecer”.
Muitos dizem futuro como se dissessem brisa suave, arco-íris, pôr de sol.
A voz de Antero, fundador do Partido Socialista Português, ecoa em perseguição da “miragem enganosa” que lhe foge: “Assim a vida passa vagarosa: / O presente a aspirar sempre ao futuro: / O futuro, uma sombra mentirosa”.